SOLDADINHOS

Clerisvaldo B. Chagas

SOLDADINHOS
(Clerisvaldo B. Chagas. 14.5.2010)

E vou contemplando velhas e novas ruas da capital. Lembro de uma pesquisa feita aqui mesmo no Instituto Histórico e Geográfico. Igaçabas, flechas, cocares, lanças... A mulher que dizia estudante só pagar a metade. No pátio, o canhão antigo e conservado que defendia a terra contra invasores navais. Chapéu, armas e roupa de Lampião. Lembro do escritor Ernani Mero em relação ao Instituto. “Venha para Maceió, meu amigo, também gosto muito de Penedo, mas aqui eu sirvo melhor a minha terra”. Deixo a ladeira do Brito, revejo o Parque Gonçalves Ledo, tão bonito, sendo rondado por estupradores (ver jornais passados). E esses arredores altos que me chamavam atenção, hoje apresentam mansões abandonadas e o medo dos marginais que perambulam. Muitas outras mansões fechadas, decadentes, cujos donos morreram ou resolveram migrar para apartamentos e condomínios fechados. O Maceió antigo vai virando manchas, substituindo residências por casas comerciais e, os brancos paralelepípedos pelo preto-cinza do asfalto. Quero entrevistar os sem-terras da Praça Sinimbu, mas o motorista teme como outros motoristas temem. O sinal vermelho não impede o avanço do veículo. Ninguém para, nessa tarde de domingo. As lonas pretas contrastam com o verde das árvores no palácio dos homens do campo. Falam-me que uma pracinha sem bancos, sem nada, é chamada de Praça da Macaxeira. O povo que vende o produto no chão vai batizando os logradouros. Muitas novidades no distrito industrial, no aeroporto, nos bairros de cima que se modernizam com o vertical do concreto.
É na praia da Jatiúca onde estão muitos benefícios que melhoram a qualidade de vida. Ali percorro trechos em coletivo mirando terras e águas. Uma senhora, ao meu lado vê garotos uniformizados e não resiste: “Hem, hem! Parece um rebanho de soldadinhos! O senhor conhece soldadinho?” Vejo que a senhora é do interior. Chega uma vontade medonha de conversar com ela. Estar sentindo-se como eu, repleta de saudades. Mas não me sinto propenso a conversas, naquele momento. Apenas balanço afirmativamente a cabeça. Claro que conheço soldadinho. Pássaro que carrega uma crista vermelha na cabeça. Antigamente ele nos encantava mesmo no meu interior, mas já não existe no lugar onde moro. O interior da senhora do coletivo ainda pode se deslumbrar com esses bandos de soldadinhos, para ela, aqui, felizmente transformados em meninos.
Não sei por que tantas lembranças perseguem a gente na caminhada da vida. De vez em quando encontramos um parceiro saudoso que divide os passos da jornada. Pouco a pouco outros cenários vão surgindo no plano físico e no espiritual, moldando a alma de quem caminha. Muitos castelos vão ruindo, mas novos jardins vão inebriando o viajor. Quando a “dama bonita e tristonha” aparece, é hora de meditação. É o momento de vermos uma tela que se apresenta repleta de SOLDADINHOS.



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