NILO PEÇANHA
(Clerisvaldo B. Chagas. 8.6.2010)
Para jovens pesquisadores
Sempre me intrigou o pedaço em que foi dividida a Rua Antonio Tavares. Iniciando no comércio até as duas primeiras travessas, o trecho é denominado Nilo Peçanha. Dali até o início do Bairro São Pedro, leva o nome de Antonio Tavares. Antonio Tavares foi comerciante, panificador, morava em um pequeno quarto perto da primeira travessa que divide as duas ruas, lugar onde faleceu. Foi pai do deputado Siloé Tavares, que se destacou na invasão ao Palácio dos Martírios, durante o processo de impeachment ao governador Muniz Falcão. Quanto ao trecho tão pequeno que leva o nome Nilo Peçanha, pouquíssimas pessoas sabem quem foi esse cidadão. Ali existiu a Cadeia Velha que funcionou também como ponto de venda de escravos e de sede do batalhão para combate ao cangaceirismo de Virgulino Ferreira. Funcionou também a Caixa Econômica Federal e a mais importante joalheria do interior alagoano, pertencente ao senhor Gumercindo Brandão (tio do professor Aloísio Ernande Brandão). Muitos episódios da história de Santana aconteceram nesse trecho tão pequeno de rua.
E, para desvendar o mistério dos que nada procuram saber, vamos deixar uma pitada de história do Brasil para os que fazem parte da rua pequena. Nilo Procópio Peçanha foi um menino pobre nascido no Rio de Janeiro, discriminado pela elite por ter nascido mulato. O seu pai era padeiro, sua mãe, pessoa ligada à política. Por causa da discriminação, Nilo teve uma vida inteira contra si; entretanto, estudou e formou-se em Advocacia. Ingressou na política e mostrou muita habilidade nesse caminho, chegando a ser presidente do Rio de Janeiro. Ele mesmo diz, mais tarde, que havia sido criado com pão dormido e paçoca. Tornou-se abolicionista e, até mesmo seu casamento foi um escândalo, por causa da sua condição de filho de pessoas de cores diferentes. Nilo foi constituinte, senador e eleito vice-presidente de Afonso Pena. Nilo Procópio Peçanha também foi maçom, sendo Grão-mestre do Grande Oriente do Brasil, gestão 1917-1919. Mas voltando ao passado, com a morte de Afonso Pena em 1909, Nilo Peçanha assumiu a presidência do Brasil até Novembro de 1910. Como presidente da República, Peçanha criou o Ministério da Agricultura, Comércio e Indústria. Criou ainda o Serviço de Proteção aos Índios (SPI) e inaugurou o Ensino Técnico no Brasil. Esse grande brasileiro faleceu em 1924 no mesmo estado em que nascera. Nesse ano em Santana do Ipanema, deixava a intendência, Sebastião de Medeiros Wanderley e assumia o 9º intendente do Município, o senhor Manoel de Aquino Melo.
A população santanense ignora o nome do trecho, chamando-o, simplesmente Antonio Tavares. Não sabemos o porquê desse vício administrativo geral que corta e denomina pedaços de ruas. Por falta de pesquisa, também não temos a data em que esse diminuto casario recebeu o nome do presidente do Brasil, nem procuramos saber em qual gestão municipal batizaram aquela porção. Mas sempre pensei que se eu fosse artista plástico, faria um belo quadro desse lugar, sem movimento, captando a saudade, a melancolia e as histórias invisíveis que se escondem na Rua da Cadeia Velha, na Rua NILO PEÇANHA.
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