MAREJAR OS OLHOS

Clerisvaldo B. Chagas

MAREJAR OS OLHOS
(Clerisvaldo B. Chagas, 25 de janeiro de 2011)

Amigos de Santos enviam mais de oitenta fotos para a minha apreciação. Um “show” na “Churrascaria Boi Bom” apresentava um dos monstros da Música Popular Brasileira, Agnaldo Timóteo. Voltando no tempo, vozes românticas e originais vão surgindo e fazendo enorme sucesso nas décadas 1960/70: Anísio Silva, o cantor da voz de veludo, descoberto quando cantava em um balcão de farmácia; Altemar Dutra, voz única, minha preferida até hoje; Miltinho, ritmo de compasso “silabado”; Silvinho, canto estridente e longo; Valdick Soriano, estilo brega e chorão; Moacir Franco, voz macia e romântica; Agnaldo Rayol, despontando com grande futuro e, Agnaldo Timóteo com o primeiro disco arrebentando no Brasil inteiro. Uma voz diferente de tudo que se conhecia, selvagem e potente. Porém, no início da carreira, muito antes da fama, Agnaldo Timóteo, ex-motorista de Ângela Maria, esteve em Santana do Ipanema. Não compareci ao Tênis Club onde aconteceu a apresentação, mas dizem que Agnaldo levou ali ruidosa vaia. Revoltado, o futuro ídolo teria dito que jamais retornaria a Santana.
O tempo passou, Agnaldo tornou-se um dos grandes cantores do país (para muita gente, até o maior) e quase não descansava com tantos compromissos nos palcos de todas as regiões. Ultimamente o cantor apareceu doente, magro e pálido, mas sem perder as características de brabeza que sempre o acompanharam. A marcha do tempo vai mudando também para os chamados cantores, se bem que hoje se vê mais zoada eletrônica do que voz poderosa como a do próprio Timóteo. Mas não foi somente Agnaldo que foi ficando à margem com essa geração. A concorrência é grande e a mídia divulga muitas novidades, mesmo que sejam coisas efêmeras e medíocres, entre fenômenos musicais. Valores como Zé Ramalho surgem das cinzas com roupagem nova pela sobrevivência. Elba luta como leoa para não cair no esquecimento. Outros valores de primeira qualidade, não resistem às pressões e viram apresentadores de televisão ou ainda sucumbem à intensa variação da mídia.
Nas mais de oitenta fotos enviadas pelo sistema jpeg, vimos um Agnaldo Timóteo gordo, alegre, vestindo terno xadrez. Dá pena contemplar a notável churrascaria da Baixada Santista, “Boi Bom” quase vazia para o espetáculo de uma celebridade. Estava ali um reduzidíssimo público composto 99,9%, por pessoas da terceira idade, recordações dos anos 60/70. Agnaldo cumpriu promessa e jamais retornou a Santana do Ipanema que apenas viu de longe sua ascensão, glória e liderança musical. Nos sucessos de Timóteo, estávamos conhecendo as cidades de Batalha, Jacaré dos Homens e Belo Monte, ouvindo em todos os lugares a força da voz estupenda do seu primeiro disco. Ainda hoje ouvir Agnaldo é lembrar às festas de Senhora Santa Ana, no mês de julho e, as três cidades alagoanas acima. O tempo cumpre a sua parte, mas não proíbe MAREJAR OS OLHOS.

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