BAR DO BACURAU
(Clerisvaldo B. Chagas, 24 de janeiro de 2011).
Pensando em parar de escrever crônicas, pois estou captando inspiração para continuar o terceiro capítulo do quinto e último romance do ciclo cangaço, fui à inspeção no Bairro São José. Ao deparar-me com o artista plástico, Roninho, deixei as outras observações em segundo plano, por que o mago do pincel preencheria com certeza a crônica quingentésima primeira. Portanto, a continuação da coluna e do blog foi graças a esse encontro providencial do Bairro São José. Ao passar margeando a lateral esquerda do muro do Corpo de Bombeiros, chamou-me a atenção o desenho de uma ave de hábitos noctívagos. Na parede, no centro de um círculo estava a figura e o nome cortando: “Bar do Bacurau”. Lá dentro, atrás do balcão, o proprietário dava os últimos retoques para abrir à clientela. Pois é, Roninho agora associou aos seus trabalhos à venda de bebida e já possui bons clientes do bairro. No balcão, vários frascos de cachaça, repletos de frutas como abacaxi, pêssego e outras, atraem de primeira o cliente sedento. Com orgulho, Roninho diz que tudo aquilo é sua invenção e não deixa de mostrar o frasco preferido à base de uma misturada denominada “pitó”. Todos os frascos tem nome e no momento aguardavam adesivos com suas respectivas denominações.
As paredes do “Bacurau” estão decoradas com dois enormes quadros regionalistas bem ao estilo do autor. Interessante é que personagens das imediações, alguns frequentadores do bar, estão desenhados em folhas de papel, pregados em outras secções da parede. Eles chegam vibrantes, pedindo emprestadas suas próprias caricaturas para mostrarem por toda a vizinhança. Roninho diz estar satisfeito com a nova atividade que complementa a sua luta em busca de um reconhecimento mais abrangente. Vejo o mostruário dos seus trabalhos, vou me divertindo e oferecendo sugestões. Então, o artista mostra-me suas fotos com pessoas famosas: Roninho e o governador Teotônio Vilela, adquirente de um quadro do autor. Roninho recebendo um broche na camisa, pelo grande ex-técnico da Seleção Brasileira e ex-jogador Zagallo. Roninho, rosto colado a maior jogadora de futebol do mundo, Marta... E por aí afora.
Mas o artista também vai indicando companheiros santanenses que vem se destacando na pintura e na escultura, falando sobre o trabalho de cada um. Sua nova profissão às vezes puxa para altas horas. Por esse motivo e por ter caçado a ave com petecas, na meninice, Roninho colocou acertadamente o nome típico, simbólico e original do dono da noite das caatingas, difícil de matar, o invocado Bacurau.
Agora, nenhum escritor, jornalista, pintor, poeta, apologistas, pode dizer que não tem em Santana um cantinho modesto para encontros do intelecto, movido, se quiser, a um bom aperitivo quente ou frio sob olhos e ouvidos de Roninho. Os dos Monumento, larguem a preguiça e venham para o lado Oeste da cidade. Por ironia, o homem da Arte fica vizinho a ex-Praça das Artes, destruída pelo abandono da atual gestão e pelos vândalos guiados pelas rédeas do demo. Ganhei meu domingo e a inspiração de volta no BAR DO BACURAU.
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