LULU FÉLIX
(Clerisvaldo B. Chagas. 19.5.2010)
Visitando pontos da nossa Maceió, registramos o desprezo administrativo nos calçadões de praias como Avenida e Sobral. E a praia do Sobral nos faz recordar um cidadão de Santana do Ipanema que marcou época. Trata-se do indivíduo Lulu Félix, baixinho, carismático e contador de aventuras, quase todas elas vividas por ele. Lulu morava na entrada da Maniçoba, subúrbio de Santana, em uma casa de alpendre na parte mais alta do largo. Tenho impressão até que o sítio em que morava Lulu, antes pertencera a certo Tavares, personagem de uma crônica do escritor Oscar Silva. Na varanda da casa grande, mas modesta, havia um banco chamado no Sertão de “pelar porco”, que servia para descansar as pernas dos que transitavam entre a cidade e a Maniçoba ou Bebedouro. Até hoje chamo a esse lugar de Largo do Lulu Félix e gostaria que oficialmente assim fosse chamado pela prefeitura da cidade. Lulu Félix sempre estava no comércio de Santana. A loja de tecidos do meu pai era um dos seus pontos de parada prediletos. O homem sempre aparecia de paletó. A princípio, chegava calado, encostava-se à parede externa e ficava ouvindo a conversa dos que haviam chegado antes. Parecia aguardar a sua vez de falar. E falava sim, quando alguém a ele se dirigia pedindo que contasse alguma coisa das suas constantes viagens a São Paulo. O pequeno, falando fino e baixo, então, se soltava a mentir com uma seriedade impressionante. Falava sobre São Paulo, Minas, Amazonas, Maceió, Bahia... Segundo suas narrativas, estivera nos lugares citados quando vira isso e aquilo. Se alguém fazia uma observação, Lulu sempre replicava com a frase: “Eu passei foi quinze anos naquela porcaria”. De modo que se fosse somado o tempo que ele falava durante a palestra, daria mais de cem anos e o Lulu Félix deveria estar na faixa dos 55 aos 65 de idade. Alguns diziam que o paletó era presente da família. Não sei. Nunca ousei perguntar isso aquele homem tão sério.
Ao falar em Maceió, disse Lulu Félix que um grupo de vinte homens do exército desceu até a praia do Sobral, para realizar os exercícios de costume. Após as instruções de rotina, o sargento chamou os soldados de volta ao quartel. Mas quando contaram os homens, estava faltando um. Procuraram em todos os lugares e nada. Só podia ter sido afogamento, não havia outra explicação. Os soldados retornaram ao quartel com essa lamentável baixa, segundo a narrativa. Três dias após o acontecimento, um pescador pegou um peixe enorme no mar do Sobral e, ao abri-lo, qual não foi à surpresa! Estava o soldado desaparecido inteirinho na barriga do peixe e ainda mais em posição de continência.
Quando alguém duvidava das suas conclusões, Lula sempre dizia: “Você não viaja!”
Na realidade, o argumento de Lulu era muito eficiente. Se você não viaja, meu amigo, como pode duvidar das coisas que não conhece? Vou deixando a praia do Sobral, imortalizada nas clássicas mentiras do santanense, quando mentir era uma arte. E o que era arte passou à safadeza descarada dos bandidos engravatados. Boas lembranças das doces e sacrossantas mentiras de LULU FÉLIX.
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