ADEUS ÀS CAJARANAS
(Clerisvaldo B. Chagas, 21 de dezembro de 2010)
Aproveitando o domingo de céu nublado e calor escaldante, vou percorrendo trechos da minha terra, numa espécie de inspeção silenciosa. Da AL-130, tento desenhar as cercanias de Santana, mas a hora não é conveniente. Dirijo-me, então, à entrada da cidade de quem vem de Pão de Açúcar e volto ao centro de Santana pela antiga estrada que dá acesso a AL-130. Entro na primeira rodovia moderna construída no estado de Alagoas, na metade dos seus 4 km de extensão. Rodovia feita pelo, então, engenheiro agrônomo Otávio Cabral, Santana – Curral do Meio, 1924-25, para dá início à fazenda Sementeira (nome que rebatizou o Curral) modernizar a agricultura e fomentar o algodão. Instalações de um posto de gasolina estreitaram e esconderam a entrada pela AL. O trecho até o atual Conjunto Eduardo Rita, também pareceu mais estreito, invadido pelas cercas de arame farpado. O calçamento bruto de granito com cerca de trinta metros, sobre possível atoleiro, ainda estava lá. Reduzido, mas representando um dos marcos do Dr. Otávio que depois foi intendente interventor do município. Mas a surpresa desagradável foi não vê mais o conjunto de cajaranas que deu nome a localidade. Só os tocos restam dessas árvores enormes que nos forneciam deliciosos cajás, pequenos frutos cilíndricos, amarelos, doces e travosos. Assim, mais um topônimo de ponto aprazível da minha terra desaparece. Como devo avisar aos mais novos para não confundir esse lugar chamado “Cajaranas” com a “Cajarana”, ponto no outro extremo da cidade onde está situada a nova unidade hospitalar? Ali ainda existe a árvore frondosa que denominou o conjunto residencial Cajarana, construído pelo prefeito da época, Paulo Ferreira de Andrade (provavelmente até a chegada de dois loucos, o machado e o dono).
A fazenda Sementeira, sede da revolução agrícola, estará ganhando as instalações do IFAL. Mas esse trecho, em torno de oitocentos metros, bem que poderia ser revitalizado como opção de acesso à Sementeira. Encontra-se completamente abandonado. À esquerda, o enorme terreno de uma fazenda urbana, com sede de vista privilegiada para a cidade, desmente a notícia que falta terrenos em Santana. Quantas coisas importantes poderiam ser construídas ali, até mesmo um centro de compras com amplo estacionamento. E passando pela pobreza do Conjunto Eduardo Rita, vamos lembrando a importância de outrora daquelas imediações para o progresso da cidade. Era a região das olarias que ergueram e cobriram os prédios de Santana do Ipanema. Na passagem molhada sobre o rio, a mesma pontezinha construída há mais de sessenta anos, aterrada e novamente descoberta pelo Ipanema. O mau cheiro da água empoçada e escura é insuportável. Lixo toma conta do cenário bucólico aonde pastam os animais, como no início de tudo.
Assim encerro minhas inspeções domingueiras, convidando os que escrevem para fazermos, juntos, essas jornadas curtas e documentais. Notícias para os que estão fora da terra há bastante tempo. ADEUS ÀS CAJARANAS.
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