As grandes secas da história surgiram antes do home na face da terra, os registros dos antepassados assinalam estas assertivas, pois esse fenômeno cíclico sempre tangeu o homem de ser habitat, gerando o êxodo, a fome, a miséria. Nos anos cinquenta, um grande nordestino, José de Souza Dantas Filho, Zé Dantas (1921-1962), poeta dos bons, escreveu o hino nacional dos nordestinos, Vozes da seca, que o Gozagão gravou, diz a última estrofe: “se o doutor fizer assim/ salva o povo do sertão/ quando um dia a chuva vim/ que riqueza prá nação/ nunca mais nós pense em seca/ vai dá tudo nesse chão/ como vê nosso destino/ mercê tem nas vossas mãos”. Essa música, por seu valor cultural e histórico, constituiu-se tema para debates no Congresso Nacional, haja vista sintetizar com clareza as agruras do povo nordestino. Dr. Zé Dantas, médico e compositor, escreveu essa pérola musical e entregou a Luiz Gonzaga, e lhe pediu que omitisse seu nome para evitar complicações com a família. Escreveu La Fontaine, “quantas vezes encontramos nosso destino nos caminhos que tomamos para evitá-lo”. Outra seca se abate sobre o sertão nordestino, e mais uma vez Vozes da seca se faz evidência, por ser uma letra atemporal, escrita por um gênio da poesia, são também da lavra de Zé Dantas, A volta da Asa Branca, Forró de Mané Vito, Sabiá, Noites brasileiras, Acauã, Riacho do Navio, e tantas outra joias musicais na voz de Luiz Gonzaga que se celebrizaram e se perpetuaram na memória do povo, entrando para história, tornando-se imortais, em sendo Zé Dantas de Carnaíba, incrustado no sertão Pernambucano, soube melhor que ninguém interpretar as dores e alegrias do povo nordestino, com músicas magistrais que continuarão cantadas pelo próprio povo, transformadas em lamentos e súplicas dessa gente tão sofrida, e tão desassistida dos poderes maiores, são também os poetas, os prosadores e jornalistas os porta vozes do povo em todas circunstâncias, quantas vezes uma bela página musical transforma uma comunidade,de uma música de Joubert de Carvalho, nasceu uma grande metrópole, Maringá, no estado do Paraná, nos idos de 1.947, cognominada de “a cidade canção”, visto seu nome se originar do nome da música da época, Maringá, apenas um exemplo, mas existe milhares de músicas que originaram nomes de outras cidades. E enquanto tudo isso se escreve, a seca continua assolando o povo sertanejo sem dó nem piedade. O governo está fazendo alguma coisa? Sim, mas ainda é muito pouco para o muito que o sertanejo precisa, ele não necessita tão somente de milho, água e bagaço de cana, isto é para sobrevivência dos animais, e o povo? Quem vive só de água é peixe, nós, os sertanejos, carecemos alimentação sadia, escola, médico, trabalho, porque as secas periódicas nunca vão deixar de existir, e o governo é consciente disto, todavia carece é de se criar mecanismos de convivência com essa drástica situação, haja visto Alagoas estar encravada no polígono da seca, que via de regra se abatem sobre o sertão nordestino,mormente o estado de Alagoas que já faz parte por natureza desse contexto, face sua pluviometricidade sempre deixar a desejar, notadamente na área sertaneja. O sertanejo carece de água, sim, porque a água encanada é muito cara, alardear-se aos quatro ventos e em bom som, que a redenção do sertanejo será o propalado canal do sertão, eu muito me questiono sobre esse assunto tão controverso, será que o pobre sertanejo terá acesso mesmo a essa água? Ou será ainda manipulado, como tem sido ao longo das secas, quando se criou a indústria da seca, que até hoje perdura com os chamados carros pipas, a coisa chegou a tal ponto, que foi necessário a intervenção do Exército, resolveu? Não, melhorou? Talvez sim talvez não. O povo é o senhor da razão. Secas periódicas marcaram o curso da história, ceifaram vidas, deixaram rebanhos, desagregam famílias, e foram temas para muitas discussões, como as de 1915, em quem Rachel de Queirós se inspirou e escreveu o Quinze, sua maior obra literária, posteriormente Graciliano Ramos escreveu Vidas Secas, anteriormente, José Américo de Almeida escreveu A bagaceira, apenas para citar algumas obras que se celebrizaram centradas em grande secas, assinalamos também as secas de 1932, 1956, 1970, 2003, 2012 e que se posterga em 2013, instalada no Nordeste sem prazo para sair, enquanto isto o sertanejo sofre com poucas medidas paliativas do governo, não são essas magras bolsa de setenta reais que vão minimizarem essa grave situação do sertanejo, ora, se um salário mínimo não dá para se viver, apenas sobreviver, setenta reais como renda percapita, vai erradicar a pobreza, isto é apenas uma compra de votos esdrúxula e disfarçada, uma alienação, e nunca solução.
concluo meu artigo, com outro trecho magistral do poeta Zé Dantas, em Vozes da seca: “é por isso que pedimos, proteção a vosmicê/ homem por nóis escuido, para as rédeas do poder/ pois doutor dos vinte e sete estados/ temos dez sem chuvê/ veja bem quase a metade, do Brasil tá sem cumê”.
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