CENTENÁRIO DE ARACY DE ALMEIDA

Antonio Machado

O mês de agosto é temível, diz-se que ele às vezes, rima com desgosto, quando fatidicamente, morre alguém ilustre, o país perdeu recentemente, em agosto, um filho ilustre, Eduardo Campos, uma das esperanças da política brasileira. Reporto-me aqui também, a uma das artistas de valor no meio artístico, Aracy Teles de Almeida, artisticamente, Aracy de Almeida, nascida aos 19 de agosto de 1914, no Rio de Janeiro, filha do casal protestante Hermogênea e Baltazar Teles de Almeida. Se para Aracy de Almeida, o mês de agosto lhe fez sorrir, para Eduardo Campos lhe fez chorar. É nesse permeio, que se situa os caprichos da natureza. A vida artística estava na veia de Aracy de Almeida, que desde cedo começou a enveredar por esse caminho, sendo a igreja protestante, seu primeiro palco, interpretando hinos religiosos, com sua voz meio fanha, dava-lhe mais beleza. Dali para os palcos da vida foi um salto. Gostava das boas leituras, era versada nos clássicos. Cantava também ás músicas de candomblé e blocos carnavalescos, más tudo às escondidas de seus pais, que certamente abominavam determinadas atitudes de sua filha, e em sendo a única filha mulher desse casal, os outros filhos eram homens. Com essa voz invejável, Aracy de Almeida foi descoberta por Custódio Mesquita, nome já consagrado no meio artístico, e ela cantou Bom dia meu amor, de Joulber de Carvalho e Olegário Mariano, Custódio Mesquita ficou deslumbrado com a bela voz daquela garota em flor.
Era ali que estavam se abrindo as portas do sucesso para Aracy de Almeida. E em seguida, 1933, aos 19 anos de idade, conheceu Noel Rosa, “o doutor do samba” da época, foi grande compositor, de sua lavra, saíram letras e músicas que o imortalizou. Aracy de Almeida e Noel Rosa, formaram um par perfeito para a MPB. Em 1934, Aracy de Almeida gravou seu primeiro disco na Colômbia, com a Em plena folia, de Julieta de Oliveira, e em 1935, gravou Seu riso de criança, de Noel Rosa. Anos mais tarde, vieram Triste cuíca, Cansei de pedir, Amor de Parceria, ambas de Noel Rosa, tornando-se conhecida como interprete de sambas carnavalescos, sendo apelidada por César Ladeira, de “O samba em pessoa” dada sua versatilidade nesse campo. Foi colega de Alziro Zarur, Carmem Miranda, Haroldo Lobo, Ary Barroso e tantos expoentes da música popular brasileira, o nome de Aracy de Almeida corria o Brasil, através das rádios, Rádio Educadora, Cruzeiro do Sul, Mayric Veiga e tantas outras que começavam a pipocar pelo país.
Tinha Aracy de Almeida uma grande admiração por Noel Rosa, seu grande compositor, pois ele dizia que Aracy de Almeida era a única artista que interpretava com exatidão, tudo que ele escrevia. Feito de oração, Palpite infeliz, O x do problema, Eu sei sofrer, Último desejo todas de Noel Rosa, que na voz de Aracy de Almeida, tinha uma tonalidade a mais, tornando-se mais bonita e mais linda.
Quando a vida já lhe começava a pesar seu corpo meio desengonçado, Aracy de Almeida passou a ser jurada dos programas de calouros, que estavam surgindo na televisão, notadamente nos programas de Sílvio Santos. Os calouros temiam a nota dessa guerreira do samba. Era pessoa lida esclarecida, possuindo uma boa bagagem musical e cultural. “ A dama da Central” como também era conhecida, pois só viajava de trem, valendo-lhe esse epíteto. Teve amores, mas não teve amor, apenas encontro fugases, morreu solteirona. Parecia viver de mau humor, tinha uma fisionomia meio fechada, porém dona de uma grande alma.
O ser humano é finito, a artista e sambista Aracy de Almeida, cansou, e finalmente no dia 20 de junho de 1998, faleceu de embolia pulmonar. O Brasil reverencia neste ano de 2014, 100 anos de nascimento de Aracy de Almeida, data esta que precisa ser lembrada, porque esquecer o passado, é esquecer de si próprio.

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