A FEIRA LIVRE DE OLHO D’ÁGUA DAS FLORES (3ª PARTE )

Antonio Machado

A FEIRA LIVRE DE OLHO D’ÁGUA DAS FLORES (3ª PARTE )
Antonio Machado
O tempo é o senhor da história, e essa história é sempre feita no andar do homem na terra dos mortais, foram sim, os agrupamentos dos homens e das mulheres que, na necessidade de troca de produtos centrados e de primeira necessidade, que surgiram as feiras ao longo da história. E aos poucos, em partes até, venho contando essa odisséia da origem da feira de Olho d’Água das Flores nos idos de 1920, isto há 90 anos! E nem sequer, a Câmara de Vereadores da cidade se manifestou, ou talvez, nem sabia, o que é mais provável sobre a efeméride política.
E assim novamente anos se passaram... Já se está caminhando para o centenário, é uma história perlustrada de vários fatos alegres, tristes e até jocosos. Na feira já se matou gente, na feira existem sempre os reencontros, inicia-se até namoros e na feira também tem os cantores e os poetas populares, enfim, uma feira livre é um “pungá” de tudo, uma miscelânea de tudo como tão bem escreveu o poeta Onildo Almeida, na feira de Caruaru, parodiando o poeta passo diz: “na feira de Olho d’Água/ faz gosto a gente vê/ de quase tudo que existe/ lá tem prá se vender”.
No mundo de século XXI, e estamos no primeiro decênio desse século, os homens têm que se ajustarem ao modernismo e a competitividade para acompanhar o progresso, e portanto, torna-se necessário as mudanças na busca de novas perspectivas não para uma melhor estabilização, mas visando um fito de lucro maior daqueles que dependem dos movimentos e transações comerciais, e que devem, promover melhor comodidade aos demais, propiciando-lhes lugares e momentos agradáveis. Mas dizem também que, toda mudança implica em perde também, e dizia “sinha” Auta do Gameleiro que: “quem se muda, ou morre ou murcha”, como historiador, não possuo qualidades para questionar estes díteros populares, que muitas vezes, tornam-se regras para nós. O jovem Prefeito Dr. Carlos André Paes Barretos dos Anjos, no fragor de sua administração, criou o Centro Comercio Domício Silva, idéia benfazeja, só que, lamentavelmente, não existem sequer, uma placa indicando essa área, porém foi passo acertado, e pode ser já o início da revitalização do comércio tão prenunciado pelo Executivo, que recentemente, em discurso, afirmou que, logo após o fogo da eleição, dará início ao tão esperado calçadão da juventude.
Ocorreu, porém, que sem muito alarde e pouca comunicação e quase sem consulta prévia aos comerciantes, haja vista poucos saberem, no dia 09 de agosto de 2010, a feira livre de Olho d’Água das Flores, mudou-se tranquilamente para as ruas laterais, dando adeus ao comércio, talvez para nunca mais. Espantei-me, haja vista não ter sabido anteriormente, mas em nome da modernidade, foi bom. Perguntei em enquete, a alguns comerciantes sobre a medida, e alguns acharam boa, outros ruim, mas é sempre assim, manda quem pode, e obedece quem precisa... E assim caminha a humanidade...
Diante da mudança da feira, o poeta sem métrica, Colly Flores, foi comprar uma panela de barro a Carmozina do Gameleiro e não achou mais o lugar, ficou atarantado e escreveu esta décima: “ e o fumo, onde ficou? /onde botaram as panelas/ até a feira das gamelas/ esta já se acabou/ e a farinha e o feijão/ eles estão no mercado/ e o caldo de cana gelado/ não sei nem responder/até uma nega pra se comer/ não sei mais onde encontrar”. Aos poucos, as coisas vão se acomodando e o povo vão se adaptando a situação. Sabe-se que, uma mudança depois de 90 anos é difícil.
No meu ponto de vista, e nem comerciante sou, talvez deveria até ficar calado, colocando a língua “onde o macaco botou o caju”, porém como cidadão olhodaguense e da cepa, acho que a feira é um patrimônio público não só da cidade mas do município como todo, e seria mais elegante espalhar a feira nas ruas laterais, sem mexer no Centro Comercial Domicio Silva, que com a saída a feira livre, parece perder sua característica, onde ficou somente o comércio de elites, hoje formado praticamente pelos comerciantes de Santana do Ipanema, que foram tão contra nossa Independência, senão eles, mas seus ancestrais. Há poucos dias a madame de um comeciante desse, implorou ao marido: “bem, me faça tudo, menos me fazer morar em Olho d’Água das Flores”. Quanta ironia!

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