OS BEM-TE-VIS DE RUI BARBOSA

Antonio Machado

O legado cultural deixado por esse ilustre brasileiro, é deveras inegável, afirmam que sua biblioteca particular, no Rio de Janeiro, ficou cerca de quarenta mil livros, claro que não foram todos escritos pelo eminente escritor, jurista e orador conceituado, mas no decorrer dos anos foi sendo montada. Dr. Rui Barbosa (1849-1923), foi o maior orador de seu tempo, sempre ao lado da liberdade e dos menos favorecidos. Sua vida foi motivo de muitos trabalhos literários. Sendo hoje um acervo legado ao estado, preservando assim à memória de tão ilustre brasileiro. Humberto de Campos de (1886-1934), sendo um dos escritores mais lido de seu tempo, cronista do melhor quilate, tendo escrito quarenta livros, constituiu-se imortal da Academia Brasileira de Letras- ABL., dado seu talento literário, abordando todos os assuntos que se fazia matéria no Brasil de seu tempo, em sendo Humberto de Campos, autodidata, sabia como poucos, usar a vírgula com conhecimento e exatamente no lugar certo. Nomeado que foi para tomar conta da Casa de Rui Barbosa, Humberto de Campos, tornou-se guardião daquele legado cultural de imenso valor. Ninguém melhor do que o escritor da envergadura de Humberto de Campos para cuidar zelosamente do espólio cultural de outro escritor. Nesse trabalho que fazia prazerosamente palmilhava no dia a dia àquele solo sagrado, calcado pelos pés do mais ilustre dos brasileiros no século XIX, e pôde sentir in loco, o amor do escritor pelas aves, que enchiam com seus chilreios aquele ambiente, que pareciam lhe vir receber de suas mãos as pitanças. Dentre essas aves que lhe eram tão caras, o velho jurista tinha por preferência invulgar os Bem-te-vis, sendo essas talvez as que mais lhe tocava a alma, com o seu canto formando uma onomatopeia, na sua liberdade que os homens negavam aos outros, Rui Barbosa foi amante da liberdade, dentre tantos aforismos e máximas que escreveu disse ele: “ três âncoras, deixou Deus ao homem: o amor à pátria, o amor à liberdade e o amor à verdade”. Afeiçoou-se tanto naquele ambiente de cultura, Humberto de Campos, que anos mais tarde, em sua bela obra, Destinos, escreveu uma de suas belas e inteligentes crônicas dedicada a Rui Barbosa, intitulada Os Bem-te-vis de Rui Barbosa, cujo trabalho literário daquele mortal das letras, orgulho de seu tempo, é hoje um paradigma luminar para os cronistas do século XXI, certamente a crônica homenageando a memória de Rui Barbosa, causou grande impacto construtivo no jornais da época, e ultrapassou a barreira dos anos chegando aos jornais de hoje.
A indicação do nome do escritor maranhense Humberto de Campos, como guardião da casa de Rui Barbosa desagradou alguns da época, se diziam que o indicado não era admirador do escritor, enquanto Humberto de Campos se dizia ter discordado de alguns pontos do eminente jurista, deixando entender que isso não lhe tolhia ser guardião de sua memória, porém entre os tempos e contratempos que lá esteve, soube dignificar seu honroso e benemérito trabalho. Quando do falecimento do escritor Coelho Neto (1864-1934), compadre e amigo de Humberto de Campos, este lhe enviou um epitáfio, com qual é digno também para Rui Barbosa: “estas rosas não são para tua cabeça gloriosa, que as merecem melhores, ó meu mestre amigo, são na humildade, para teus pés”.

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