Mesmo depois de morar definitivamente no Rio de Janeiro, o mestre nunca deixou de visitar Alagoas e interagir com os intelectuais e amigos de sua época
Aurélio Buarque de Holanda deixou Alagoas em 1938 para morar definitivamente no Rio de Janeiro, mesmo assim visitava Maceió todo ano. Enquanto estava de férias, a capital alagoana fervia, ficava em estado de festa ininterrupta, imperdível a ponto de boa parte da população não querer estar em outro lugar. Homens e mulheres iam aos encontros com o Mestre, sinônimo de Dicionário, hipnotizados por sua inteligência e alegria. Essa é a descrição dos contemporâneos.
O lexicógrafo, crítico literário, filólogo, professor, tradutor e ensaísta brasileiro, era famoso não só por essas atividades, mas também por aglutinar intelectuais, e, por isso, não era difícil encontrar pessoas como Jorge Amado, Vinícius de Moraes, Valdemar Cavalcanti, Heloísa Ramos, Raul Lima, e Manuel Diégues Júnior, visitando Maceió, enquanto Aurélio permanecia em solo alagoano.
O Mestre era sempre recepcionado pelo casal Chalita, Pierre e Solange. ?Ele vinha para se abastecer de suas raízes? lembra a viúva do pintor Pierre Chalita. O início da amizade veio por meio do pai de Solange, o médico José Lages Filho, então presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGAL) e amigo de Aurélio. Pai e filha trabalhavam juntos no IHGAL quando em um dos dias de ofício, Solange conheceu Aurélio, frequentador assíduo do local. Pierre também se encantou por Aurélio e, a partir daí, iniciou-se uma grande amizade.
No Instituto, também conviveram com jovens brilhantes como Mário Lins Broad, Cyridião Durval e Silva, José Maria de Melo, Arnon de Mello, Afrânio Lages, Arnon de Melo e Paulo Gracindo.
Solange Chalita se recorda que a convivência era maravilhosa, mas mesmo sendo formada em Letras Clássicas e doutora em Literatura Brasileira, ela diz que se ?esmerava para falar o português de forma bem correta, pois se falasse algo errado, ele corrigia
Além dos convidados ilustres, as reuniões oferecidas pelos Chalita eram sempre regadas a pratos e bebidas favoritas de Aurélio, iguarias como as comidas típicas regionais, frutos do mar, caipiroskas e sorvetes de frutas alagoanas.
O cineasta Celso Brandão, amigo e frequentador das festas, lembra que ?Mestre Aurélio engolia a bebida até a última gota do fundo do copo?. Segundo Celso, o tempo corria nessas ocasiões. ?Olhava para o relógio e eram sete horas, pouco tempo depois já passava da meia noite?, completa.
Ele ainda se recorda que numa das vindas de Aurélio para Alagoas na década de 70, os dois acompanhados de Solange, fizeram um passeio por todos os lugares que Aurélio tinha relações sentimentais.

Os três amigos percorreram a Praia da Avenida, Teatro Deodoro, praia de Pajuçara, dentre outros pontos de Maceió
Todo o itinerário foi gravado pelas lentes de uma filmadora Super 8 e, posteriormente, transformado em documentário por Celso Brandão. Após a morte de Aurélio em 1989, por insuficiência respiratória, o cineasta doou o documentário à viúva Marina Baird que, algum tempo depois, numa mudança, a relíquia foi colocada numa sacola de lixo e facilmente confundida e jogada nos entulhos.
?Aurélio possuía um daqueles sorrisos raros que a gente encontra uma vez na vida e por meio do documentário podia sempre me lembrar daquele passeio maravilhoso. Infelizmente, à época, a tecnologia não era tão acessível e não fiz cópia, sem dúvidas, foi uma grande perda?, lamenta.
Aurélio é pouco lembrado em Alagoas e para quem se interessar pela sua história, existe apenas o Espaço Aurélio Buarque de Holanda, localizado dentro do Museu Palácio Floriano Peixoto, no Centro de Maceió. No local, é possível encontrar parte do acervo pessoal de Aurélio, informações sobre sua carreira, e objetos como originais de algumas de suas obras. A entrada no Espaço Cultural é gratuita e as visitações podem ser feitas de terça a sexta-feira das 8h às 17h, e sábado, domingo e feriados das 13h às 17h.

Em contrapartida, na cidade berço onde nasceu, Passo do Camaragibe, apenas a casa simples onde viveu os primeiros nove meses de vida e a prefeitura do município fazem menção ao seu nome.
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