Por maior simplicidade que o ser humano queira pautar sua vida, vez por outra ele é instado a deixar aflorar a vaidade própria de cada um.
Nossos pais, em seus aconselhamentos, ou através de exemplos, sempre deixaram transparecer que cada pessoa deve cultivar a simplicidade e a humildade como requisitos fundamentais sem demonstrar, todavia, sentimento de humilhação ou de subserviência. Costumo citar Dom Hélder Câmara, quando dizia que “A humildade exercida de maneira exacerbada torna-se vitupério”.
Recentemente nosso irmão Shyko publicou uma foto nas redes sociais, a qual tinha como “pano de fundo” a placa da Rua José Vieira de Farias, deferência concedida em homenagem ao nosso inesquecível pai, Zeca Ricardo, como era mais conhecido.
Tempos depois da morte de “seu Zeca”, em conversa informal com alguns conterrâneos, fiz ver minha estranheza pelo fato de não haver, em nossa cidade, uma via pública com o nome de nosso pai. Minha intenção, na conversa, não teria sido para me engrandecer, mas por saber da existência de logradouros com nome de pessoas que, igualmente ao nosso genitor, tinham relevantes serviços prestados a nossa terra.
Minha condição de filho torna-me suspeito para “advogar em causa própria”. No entanto nosso escritor-mor, Djalma de Melo Carvalho, me deixa à vontade quando publicou em um de seus livros a crônica “Zeca Ricardo”, na qual ele faz citações sobre ele, que orgulham todo nós descendentes. “Na década de 70 foi escolhido “Personalidade do Ano”, indicado por Marcos Cintra, Presidente da Câmara Júnior, que justificou a escolha argumentando: “Duvido que ainda haja alguém nesta terra que não tenha recebido um favor de Zeca Ricardo”. Dando prosseguimento o escritor acentuou: “Recebia a todos, no balcão da farmácia, com aquela habitual fala mansa, quase inaudível, e sorriso cândido, estampado num rosto santo. Possuía o dom de transmitir conforto e esperança àqueles desesperados que batiam a sua porta em busca de saúde e cura. Típico farmacêutico de interior fazia de tudo: aplicava injeção, fazia curativo, parto, engessava, socorria ferido, animava, salvava vidas. Para ele todos faziam parte de uma grande família comunitária. Em madrugadas frias e escuras estava ele sorridente, disposto, com termômetro e estojo de injeção na mão. Chovesse ou fizesse sol, rico ou humilde, estava à beira do leito do enfermo, aguardando que a febre cedesse, assistindo e confortando a família do doente. Mais das vezes sem recompensa monetária. Era a vocação de servir. Com D. Aristhea, formava um casal modelo, cristão, feliz e saudável. Ambos, com muito trabalho e luta, souberam construir e educar família numerosa, calcada nos exemplos de humildade, bondade, decência, honradez e trabalho.”
Aproveito a oportunidade para agradecer, em nome da nossa família, aos vereadores José Raimundo Chagas Teodósio (in memoriam), Dr. Everaldo Pereira Cavalcante, José Albérico de Souza Azevedo, Dr. Henaldo Bulhões Barros e Luiz Alves Ribeiro, signatários do Projeto de Lei nº 02/93, de 30 de abril de 1993 aprovando o nome de nosso pai para uma das artérias de Santana do Ipanema, cuja localização fica na continuidade das ruas Coronel Lucena e Dr. Arsênio Moreira. Foi apresentada a seguinte justificativa, pelos nobres edis, para a aprovação da matéria: “A prática do bem foi uma constante em sua vida. Devotado a atender aos que, diuturnamente, o procuravam, José Vieira de Farias – Zeca Ricardo – foi um exemplo de dignidade e amor ao próximo. A homenagem que se pretende prestar, além de se constituir um reconhecimento de seus conterrâneos, serve como um registro para futuras gerações.”
Apresento, também, meus agradecimentos às funcionárias Assunção e Neuma, responsáveis pela pesquisa efetuada nos arquivos da Câmara Municipal, com vistas à localização do documento que deu origem ao fato agora registrado.
Fazenda Lagoa do Rumo-Julho/2018
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