LIDANDO COM A VIDA E COM A MORTE

Pe. José Neto de França

Dentro da linha do tempo, o homem lida constantemente com a vida e com a morte.

Naturalmente há uma tendência a “abraçar” a vida e desprezar ou “esquecer” a morte, como se fosse possível desprezá-la ou esquecê-la.

A morte, como a vida, acompanha o homem em todas as fases de sua existência. Foi, é e será sempre assim, quer o homem queira ou não.

Se o homem, mesmo com toda essa repugnância que tem para com a morte, lidasse com ela com mais naturalidade, o impacto diante dessa experiência seria bem menor.

A morte “vive” a rondar a vida; e a vida vive a rondar a morte... Acontece com pessoas que o homem nem conhece, chega aquelas que já ele ouviu falar, depois para pessoas amigas; atinge familiares próximos... um dia entra na casa e leva alguém do convívio diário ou ele próprio...

Sacerdote que sou, tenho presenciado, muitas dessas experiências. Já estive diante de corpos inertes de pessoas desconhecidas, outras amigas, familiares... inclusive do meu pai. Já assisti famílias enlutadas que sofriam por um ente querido que se foi. Já ministrei a muitos em risco de morte e/ou até já no processo de morte... Já vi e ouvi pessoas novas e idosas, com enfermidades em fase terminal revoltadas, blasfemando contra si, contra Deus... e já ví e ouvi pessoas novas e idosas aproximando-se de forma serena desse momento chave da vida/morte...

Mesmo com a experiência de lidar com esses momentos, algumas até me comoveram. Não tanto pelo desespero de parcelas daqueles que ficaram, mas pela vida dos que se foram.

Afinal a vida é uma vida, mesmo sendo como um sopro, uma palha ao vento.

Tenho aprendido, por experiência, que a proximidade com Deus, ameniza o sofrimento tanto para quem parte, como para quem fica. Nessas horas, a dor não deixa de existir, mas é bem menor. A confiança, a certeza do auxílio divino a quem está no tempo e a quem está na iminência de partir ou partindo para eternidade é fundamental.

A saudade para quem está ligado demais a matéria e nela coloca sua confiança é uma saudade que dói, e muito.

Já a saudade para aqueles que acreditam em Deus, não somente como um artifício da inteligência, mas, sobretudo, existencialmente, no sentido da busca constante de Deus, é uma saudade que dói, mas que abranda, tempera a alma. Tanto porque a esperança da ressurreição fortalece e motiva quem ficou tendo em vista que sabe que, no eterno, um futuro encontro com quem se foi, e que esteja no coração de Deus, é um grande prêmio que lhe é reservado.

Portanto, vale a pena refletir sobre a vida e sobre a morte a partir do que disse Jesus: “Eu sou a Ressurreição e a Vida: aquele que crer em mim, ainda que esteja morto, viverá. E todo aquele que vive e crer em mim não morrerá para sempre.” (Jo 11,25-26); também o que disse São Paulo: "Eis que vos revelo um mistério: nem todos morreremos, mas todos seremos transformados." (1Cor 15,51)

Pense nisso...

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