ENCONTROS QUE DEIXARAM SUAS MARCAS

Pe. José Neto de França

Há pessoas que passam pela nossa vida de forma tão significativa, que é impossível não as recordar, partilhar essas experiências com os outros.

Na minha experiência sacerdotal, já me encontrei com algumas delas que foram colocadas à minha frente como num filme de curta metragem, creio, propositadamente por Deus, para minha edificação e para que servisse também de crescimento para muitos outros fiéis.

Uma pessoa que marcou de forma significativa foi a Samilla Soares.

Conheci a Samilla no ano de 2016 por ocasião do Sacramento da Crisma que aconteceu na paróquia. Ela pertencia a comunidade de Gaviões. Fui confessar os jovens numa comunidade próxima, e ela não chegou a tempo. No trajeto de lá, para outra comunidade onde ia celebrar uma Missa, no mesmo dia, a encontrei sendo trazida por seus pais. O atraso deu-se por conta do problema que dois anos depois a levou ao óbito: um câncer. A confessei e a vida seguiu seu curso.

Já em 2018, ano em que ela completou 19 anos, numa tarde de sábado fui celebrar uma Missa na comunidade de Lagoa Cercada e fui informado por um fiel que a Samilla gostaria muito de se confessar e comungar, mas que não tinha condições de vir a Missa, pois sua saúde estava extremamente debilitada por causa do tal câncer.

Celebrei a Missa, reservei a comunhão a ser levada e segui até a residência da Samilla. Lá a encontrei, deitada em seu leito. Apesar do problema, ela ainda conservava sua beleza de juventude. De fato, era uma jovem muito bela.

Ao contrário do que acontece com muitas pessoas nesse estado de saúde, ela estava com semblante alegre. A atendi em confissão, dei a comunhão e depois conversei um pouco com ela. Sua demonstração de serenidade diante da consciência do problema que tinha e de que fatalmente iria abreviar seus dias, me impressionou. Na verdade, Samilla me deu uma grande lição de vida e de como se deve lutar, mesmo na adversidade, a favor da vida e não da morte. Entendo por vida não somente a vida natural, biológica, mas pela vida em Cristo.

Depois desse encontro, sempre que tinha uma missa por perto aproveitava para levar Jesus Eucarístico a ela e também, claro, conversar um pouco. Cada vez que ia, apesar de vê-la sempre mais frágil e debilitada, pela sua força e coragem de enfrentar esse CA fulminante, saia de lá ainda mais fortalecido. Sua postura me passava isso.

Na semana de seu óbito, dois dias antes, numa terça-feira, ao anoitecer recebi a notícia de que ela precisava do Sacramento da Unção dos Enfermos.

Pronto! Já entendi que tudo estava se consumando! Não esperei para o outro dia. Imediatamente fui ao encontro de Cristo sofredor, presente nela.

Ao chegar, senti-me profundamente comovido. De fato, Samilla já estava se despedindo, não com palavras, mas com o sofrimento resignado, dos seus familiares, parentes, amigos, da vida natural, dela própria enquanto existência temporal... Aquela jovem que tanto gostava de se comunicar, não mais podia falar como das outras vezes. Só de vez em quando que se agitava um pouco e tentava dizer algo. Nesse momento, somente as pessoas afins é que a conseguia entendê-la...

Orei, ministrei a unção e retornei para casa, ainda em oração. Continuei a colocando nas mãos de Deus até a confirmação de que tinha partido para o coração o divino...
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Interessante como Deus nos coloca diante de tantos “anjos” para nos dar verdadeiras lições de vida... Creio que na vida de você, leitor(a), tantos desses “anjos” já passaram e também deixaram suas marcas...

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