CUIDADO QUE SE DEVE TER AO ARGUMENTAR

Pe. José Neto de França

Certo dia, vendo umas postagens em uma rede social, chamou-me a atenção uma delas, onde seu autor fazia uma comparação entre a moeda brasileira, o “real” e a moeda do mercado comum europeu, o “euro”. Foi colocada a diferença entre R$ 50,00 (cinquenta reais) e € 50,00 (cinquenta euros). Em seguida foi falado, corretamente que “o poder de compra é o que difere ambas”. Depois, sem citar o custo de vida na Europa, foi feita toda uma comparação entre um e outro valor, mas somente levando em conta o custo de vida no Brasil, tendo em vista o desfecho da postagem, que era afirmar que “lá (na Europa) a economia e os governantes trabalham para dar resultado e não para colocar seus habitantes uns contra os outros.”

Onde está o equívoco?

Faltou observar que o custo de vida na Europa é superior ao do Brasil.

Isso eu não somente ouvi falar, mas constatei quando lá estive em duas ocasiões: 1999 e 2010.

Em 1999, estive em Portugal e Itália. Em Portugal, mais precisamente em Lisboa, passei apenas algumas horas. Na Itália, foram quarenta e cinco dias.

Nessa primeira viagem, não me recordo de ter visto algum mendigo em nenhuma das cidades por que passei, de norte a sul. Mas constatei que o custo de vida era altíssimo. Na época utilizei apenas o “dólar”. Levei um pouco mais de US$ 4.000,00, (quatro mil dólares) já que fui participar de um “Curso Internacional para Formadores de Seminário Diocesano”, e, desses quarenta e cinco dias, trinta dias iria ter estadia e alimentação por conta de seus organizadores. Nesse caso, fiquei, por minha conta, apenas 15 dias. E o valor que levei, quase não deu. Tive que economizar muito.

Já em 2010, fui passar quinze dias de férias. Em Lisboa, mais uma vez, fiquei apenas algumas horas. Já na Itália, começando por Milão estive em várias cidades, indo até Roma. Dessa vez levei aproximadamente € 4.000,00 (quatro mil euros).

Devido a amizades no território italiano, não precisei pagar nenhuma hospedagem e também algumas refeições. Porém tive despesas com transportes, alimentação e telefone durante todo esse período.

Em todos os lugares me deparei com pedintes (não presenciei crianças pedindo, mas muitos jovens e idosos) – ruas, avenidas, estações de trem, metrô...

O preço de alimentação estava altíssimo. Nos quinze dias na Itália, só comi carne em dois lugares: na residência do pai de meu amigo Luiggi, em Roma e em um restaurante em uma cidade, que não me recordo nome, mas que ficava perto de Cuneo. Nas refeições em outras cidades, a mistura era algo tipo “salame”, ”presunto”... Até em um restaurante de umas jovens brasileiras que ficava em Roma, bem próximo do Vaticano, onde servem feijoada às quartas-feiras, fui degustar essa iguaria brasileira e “pasmem”, não havia carne. Foi a primeira vez que vi feijoada sem carne. Três pratos prontos de feijoada, um refrigerante para mim e uma cerveja para dois amigos, custaram a bagatela de € 95,00 (noventa e cinco euros). Segundo o amigo que me hospedou em Roma, o quilo de carne na cidade eterna estava por volta de € 50,00 (cinquenta euros).

Para se ter uma ideia do custo alimentício na Europa, cito mais dois exemplos:

O primeiro foi quando, ao visitar a Basílica de São Paulo, em Roma, resolvi, com um amigo, lanchar (almoçar) em uma lanchonete que ficava em um anexo a Basílica. Duas porções de macarrão, um x-salada e dois sucos custaram € 80,00 (oitenta euros).

O segundo foi em Firenze: Estávamos, dois amigos e eu, visitando alguns locais turísticos, quando sentimos vontade de degustar um cafezinho. Fomos até um restaurante e pedimos três cafés. Pagamos € 15,00 (quinze euros) pelo café. Enquanto degustávamos resolvemos registrar em fotografia aquele momento. Como não deu certo tirarmos a foto em pé, sentamos em cadeiras em volta de uma pequena mesa e pedimos para o funcionário do estabelecimento tirar a foto. Ele aceitou prontamente, mas depois cobrou mais € 5,00 (cinco euros) de cada por termos tomado, sentados, o café.

Logicamente que o custo de vida, independentemente do valor da moeda local, varia de país para país. Dizem, mas não posso afirmar categoricamente pelo fato de ainda não ter estado lá, que na França o custo de vida é ainda maior...

Quanto a diferença entre os governantes brasileiros e europeus, creio que não esteja tanto no cuidado que eles tenham pelos seus governados, mas pelo fato de que lá, na Europa, quando cometem atos ilícitos, no geral, são severamente punidos, aqui no Brasil são, na maioria absoluta das vezes, “contemplados”, no máximo para ficar, de tornozeleira, na mordomia de suas mansões, rindo dos abestados que o colocaram no poder...

Enigmas da vida...
EGO, ME IPSO!!!
[Pe. José Neto de França]

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