“O AMOR É FORTE COMO A MORTE" (Ct 8,6)

Pe. José Neto de França

“O AMOR É FORTE COMO A MORTE (Ct 8,6)

Quando se ama como extensão do amor de Deus, a amizade/amor entre nós, como não me canso de repetir, supera o tempo e transborda na eternidade.

Foi dessa forma que Dom Henrique e eu nutrimos uma amizade que se tornou eterna.

Tudo começou quando nos conhecemos no Seminário Arquidiocesano Nossa Senhora da Assunção, de Maceió. Eu cursava o último ano de Filosofia e ele chegou ao Seminário, se não me falha a memória, vindo de uma congregação religiosa de irmãos Trapistas. Parece-me que, em função de sua saúde física, ele optou por fazer uma experiência em uma Diocese secular, no caso a sua de origem, a Arquidiocese de Maceió.

Conversávamos muito nesse período.

Recordo-me de quando, já no final dos minha formação filosófica, final de novembro de 1990, aconteceu um inconveniente por ocasião de um encontro de avaliação do período letivo, quando um grupo de alunos do propedêutico que não me suportava pela forma de meu comportamento reto em relação às normas da casa de formação e do curso, me fizeram equivocadamente algumas acusações, como por exemplo a de ter delatado alguns companheiros ao Reitor. Com palavras bem ordenadas refutei todas as acusações e reverti o “jogo” deles. Toda a casa, talvez por medo de se comprometer, com exceção de Henrique que, sabendo de minha inocência permaneceu fiel a mim e também me defendeu, só retornou a normalidade comigo, depois que “a poeira baixou”.

No ano de 1991, fomos colegas de turma no primeiro período do curso de Teologia, no próprio Seminário Arquidiocesano. No início do segundo semestre desse mesmo ano, ele foi à Roma-Itália para prosseguir seus estudos teológicos, incluindo o Mestrado em Sistemática. Nossa amizade continuou através de mensagens em cartões postais...

Por ocasião de seus Primeiros Ministérios, Diaconato e Ordenação Sacerdotal, ele fez questão de que eu cantasse o Salmo de Meditação. Fiz isso com imensa alegria.

Lembro-me de que durante minha formação teológica faltou um professor de Bíblia para ministrar “Livros Históricos”. O reitor e minha turma acordamos para que Henrique viesse de Roma, aproveitando suas férias de meio de ano para cumprir esse compromisso durante todo mês de julho. Ele prontamente aceitou. Nesse período, para cumprir a carga horária, tivemos aulas de manhã, à tarde e à noite. Foi muito estafante, mas de grande proveito. A pedagogia com a qual Henrique repassou para nós o conteúdo foi fantástica. Às provas, no início de agosto foram individuais e orais. Ele mandou que todos os alunos estudassem os dezesseis livros históricos para na hora do exame ele escolher dois deles e fazer-nos dez questões. Eu errei apenas uma, obtendo, portanto, a nota nove.

Quando eu estava para ser ordenado Diácono, ele, em Roma, ia poder marcar presença, mas enviou a mim uma “bênção do Papa João Paulo II” com seus votos de um frutuoso exercício do serviço diaconal.

Na minha Ordenação Sacerdotal, escolhi ele, ainda Pe. Henrique, para me revestir com as vestes sacerdotais (estola e casula).

Inúmeras vezes o procurei, lá na Igreja do Livramento, em Maceió para orientação espiritual. Foi ele quem tirou muitas de minhas dúvidas em relação as questões da paranormalidade, fenômenos tão comuns na minha vida, desde criança.

Quando ele foi escolhido pelo Santo Padre, o Papa, para o episcopado e ao retornar de Aracaju, onde foi receber a notificação dessa magnifica escolha, foi assaltado e agredido por malfeitores, estampou em seu rosto ensanguentado a face de Cristo doloroso, mas vitorioso. Fiquei pensativo nesse episódio e, interiormente, me questionei: "O que será que está sendo reservado para esse santo homem de Deus?"

Encontrei-me com ele em vários eventos promovidos pela nossa Santa Igreja Católica Apostólica, como por exemplo, Retiros, Ordenações, Palestras...

Quando soube de sua internação, senti um aperto no coração, mas ao mesmo tempo seguro por saber que Dom Henrique sendo um santo homem de Deus, enfrentaria esse desafio de cabeça erguida, colocando-se nas mãos daquele em quem ele sempre acreditou.

Seu óbito imaturo foi doloroso para todos aqueles que o amou e ainda o ama. Ele partiu para o Coração do Pai, no amor de seu filho Jesus Cristo, na potência do Espírito.

“O amor é forte como a morte” (Ct 8,6)

Descanso eterno dai-lhe Senhor... Que a luz perpétua o ilumine!

Enigmas da vida...
EGO, ME IPSO!!!
[Pe. José Neto de França]

Comentários