Nesta quinta-feira, seríamos convidados por nosso mano Sérgio Campos, para uma caminhada em plena sexta-feira da Paixão. A terceira edição, de uma série que pretende manter-se a cada semana santa. As duas versões anteriores, que não participei, foram respectivamente a cidade de Carneiros e Senador Rui Palmeira.
Desta feita a jornada teria como destino a cidade de Poço das Trincheiras. Além deste cronista e o irmão, mais cinco participantes: João Nepomuceno Agra, Hélio Filho, Walker Melo, Alan Viana e seu filho “Alvinho”, Álvaro Viana. A trilha compreenderia basicamente este roteiro, saindo defronte à igreja de São Cristovão, iríamos pelo lajedo grande, passaríamos no Barroso e Sítio Água Fria. Fazia parte do percurso, passar no povoado Jorge, primeira parada obrigatória. Em plena pracinha central da comunidade de remanescentes quilombolas, conversamos com alguns moradores. Conhecemos o senhor José Viana, que nos contaria histórias importantes sobre a origem do povoado, desde a fundação até os dias atuais.
O fato do padroeiro daquela comunidade ser São José e não São Jorge, ele fez questão de esclarecer: o povoado que existe a mais de trezentos anos, começaria a partir de dois moradores um chamado Jorge e outro José, sendo ambos, negros. O primeiro nativo daquela região, quanto a José, mais novo, era remanescente do quilombo de Zumbi dos Palmares. Fugitivo do grande combate na serra da Barriga. Jorge e José constantemente eram visitados por índios que caçavam pela região, mas não estabeleciam contatos amistosos. José acabaria por capturar uma índia, e depois de mantê-la presa por muitos dias, acabariam tornando-se um casal. Jorge viria a falecer e pelo amigo seria enterrado, livrando-o assim de ser comido pelos urubus. Seria desse casal, o negro José e a índia capturada, a responsabilidade pela povoação do lugarejo. José se tornaria católico, acabaria casando de papel passado e providenciaria a primeira imagem de São José, pra ser padroeiro da vila.
Dali, partiríamos levando na bagagem, na mente e no coração, momentos dos quais jamais esqueceremos, relatos históricos registrados em filmagem e fotografia. Ainda passaríamos no Sítio Canoinha, até a chácara do vereador Sebastião Ferreira, que nos receberia dispensando aos visitantes, recepção digna de chefes de estado. O amigo edil encontrava-se, na companhia do secretário municipal de Obras José Orlando (o popular Landeco), e do secretário municipal de Transporte Erisvânio, todos de Poço das Trincheiras, que nos acompanharia no restante do percurso.
Finalmente à cidade de Poço das Trincheiras. Ao entrar pela rua, os sete andantes encontraram “Branca de Neve”. O flanelinha mais antigo que já atuou em Santana do Ipanema. Mais de quarenta anos lavando carros nas praças de nossa cidade, até os dias atuais. O apelido é um disparate a cor da sua pele, negro retinto. Estaria em Poço revendo parentes e naquele momento, vagava sozinho bêbado lavado. O descendente quilombola, já teve ajuda de vários santanenses que tentariam ajudá-lo a livrar-se do vício da embriaguês. Visivelmente entusiasmado ao rever amigos. Posou-nos pra fotos.
-“Branca de Neve” acabe com essa cachaça rapaz!
-Fazer o que... toda vez que tento acabar aparece mais.
P.S. O título desta crônica, foi baseado em frase do andante, professor João Nepomuceno Agra, filho do ilustre Alberto Agra; Hélio Filho trabalha pra Fundação Joaquim Nabuco; Alan Viana acredita ser parente não muito longínquo do senhor José Viana do povoado Jorge.José Francisco da Conceição Santos é o verdadeiro nome de "Branca de Neve".
Fabio Campos 22/04/2011 É Professor em S. do Ipanema – AL.
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