Acabo de reler o extenso e importante artigo de autoria de José Marques de Melo, publicado no portal Maltanet em 8/8/2010, intitulado “Nos Confins da Terra Espinhosa, Emerge o Sertão Glocal”. No final do artigo, acha-se inserido o Calendário Cultural Santanense 2011--2025, por ele sugerido e aprovado pela prefeitura municipal de Santana do Ipanema. Referido Calendário, embora até agora não rigorosamente cumprido, certamente terá sido um especial legado cultural deixado pelo falecido escritor santanense.
Há dois tipos de notícias: boas e más. As boas notícias alegram a gente. As más notícias provocam tristeza. Não existe notícia “mais ou menos”. Ou boa ou má. Poder-se-ia apelar, nesta circunstância, para o superlativo: notícia péssima.
Na quarta-feira, 20 de junho de 2018, o mundo acadêmico, de Alagoas e de fora daqui, recebeu a notícia do falecimento do professor doutor José Marques de Melo, aos 75 anos de idade, vítima de infarto fulminante. O mal de Parkinson afligia-o ultimamente. Faleceu em São Paulo, onde residia com a família.
Péssima notícia.
Jornalista, pesquisador, professor, escritor, autor de dezenas de livros sobre comunicação. Lecionou na USP e na Universidade Metodista de São Paulo. Ocupou bancas de pós-graduação e revirou o mundo dando palestras. Era portador de vários títulos de Doutor Honoris Causa, conferidos por universidades do Brasil e do exterior.
Sobre seu falecimento, disse Moisés de Lemos Martins, da Universidade do Minho, Braga, Portugal: “As Ciências da Comunicação, lusófonas e ibero-americanas perdem a sua principal referência e o seu principal mestre, no Brasil, nos restantes países lusófonos e no espaço ibero-americano.”
Alagoano nascido em Palmeira dos Índios, José Marques de Melo era filho de tradicional família santanense. Viveu toda sua infância e adolescência em Santana do Ipanema, considerada sua terra natal. Depois daí, ganhou o mundo para dedicar-se à Ciência da Comunicação, em que se consagrou como jornalista, professor universitário e palestrante, sempre requisitado por universidades do Brasil e do mundo. Era graduado em Direito e em Jornalismo.
Depois de aposentado, visitava Alagoas com mais frequência. Possuía apartamento em Ponta Verde, em Maceió. Em conversa, em seu apartamento, com ele tratei de relembranças de anos idos em Santana do Ipanema, do tempo de colegial.
Fui seu colega do então curso primário (Escola de Dona Helena Oliveira Chagas) e do curso ginasial (Ginásio Santana) em Santana do Ipanema. Pelo seu notável desempenho escolar, sempre achei Zé Melo – assim chamado – como pessoa superdotada. Se não era, chegava bem perto daí. Pessoa de capacidade mental e de inteligência acima da média, senão invulgar.
Disparado em notas 10 em todas as matérias, com louvor dos professores. A par dessas especiais notas em provas, certa vez, reunimo-nos – eu, Teresa Marluce e Salete Bulhões, seus colegas de turma. Resolvemos, então, convidá-lo para, em véspera de prova semestral da 4ª série ginasial, fazer banca de estudo conosco. Nosso grupo de estudo, ressalte-se, era de excelente aproveitamento escolar, por vezes de igualar-se às notas máximas de Zé Melo. Não foi difícil convencê-lo.
Escolhida, para os encontros, fora a residência de Teresa Marluce, colega de turma com quem Zé Melo mantinha boa amizade. Lá estávamos no horário combinado. Zé Melo, entretanto, sempre aparecia por lá com atraso. Logo de início, tivemos dificuldade para delinear os trabalhos. Conversa vai, conversa vem, novidades da cidade, temas fora de contexto, e mais nada, impasse que prosseguiu por cerca de dois ou três encontros. Pareceu-nos espécie de corpo mole de sua parte, senão uma pontinha de vaidade pessoal. Desconfiados que nosso colega já soubesse toda a matéria da prova e que não lhe interessava a banca de estudo por nós sugerida, desistimos da ideia.
Vejamos, a seguir, fato inusitado na vida dos inteligentes privilegiados.
Na prova da 4ª série, válida para aprovação final do curso ginasial, Zé Melo insurgiu-se contra nossa professora de português, contestando a nota que nessa prova obtivera. Na classe, na vizinha carteira de Teresa Marluce, ao lado, durante o curso, sentava-se o colega Zé Melo. Em gramática as notas de Teresa foram iguais às dele, com respostas igualmente corretas. Aconteceu, porém, que sua colega fora mais feliz no texto da redação. Daí a reclamação que resultou no pedido da professora para deixar o corpo docente do educandário. E deixou de verdade. Certeza não se tem de que a professora, após as ponderações do reclamante, tenha reformulado a nota contestada.
Em um dos encontros havidos aqui em Maceió, tratei desse episódio com Zé Melo, a título de relembranças do nosso tempo de colegiais. Rindo, disse-me ele que não mais se lembrava desse fato. Mas vivos, e gozando saúde, estão por aí os personagens dessa história, citados nesta conversa.
Maceió, janeiro de 2020.
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