Minha avó também costumava dizer: “Cada doido com sua mania.” O escritor e pesquisador baiano Itaberaba Lyra assinala que este ditado popular “serve para evidenciar gostos ou ações extravagantes dos que se dizem normais, pois os loucos, no particular, não são tão diferentes”.
Pois bem, nada tenho de doido e doidices, mas tenho também minhas manias, que não me causam nenhum mal, nem a ninguém.
Por razões históricas, Maria Rocha Melo, minha avó materna, católica que era, deixara de ir à igreja como o fazia todos os domingos e feriados, assunto sobre o qual ela sistematicamente se recusava comentar.
Padre Manoel Capitolino de Carvalho, natural de Piaçabuçu, Alagoas, foi pároco de Santana do Ipanema no período de 1898 a 1919. Líder político, o padre foi senador estadual, tendo ocupado, interinamente, o cargo de governador de Alagoas nos primeiros anos da década de 1920.
O fato ocorreu no período do seu paroquiato.
Numa manhã de domingo, vovó Bilia, assim chamada carinhosamente, chegara à igreja matriz muito cedo e sentara-se na banca da primeira fila, para aguardar a celebração da santa missa. Dali teria sido mandada levantar-se pelo pároco, sob a alegação de que toda aquela banca havia sido reservada para a família do coronel Manoel Rodrigues da Rocha, que logo mais deveria chegar à igreja. Mulher sertaneja de firmes propósitos, retirou-se imediatamente para casa, indignada, e não mais pôs os pés na igreja, tendo falecido com essa mágoa guardada no coração.
Na condição de primeiro neto, em sua casa morei por mais de dez anos, gozando de sua estima, do seu carinho e afeto. Ainda adolescente, contaram-me essa história. Certamente solidário com minha avó, tornei-me, daí, católico meio relaxado. Mas, já adulto, adquiri a mania de visitar igrejas em minhas viagens pelo mundo afora, mania por conta, sobretudo, de acentuada curiosidade pelos valores artísticos existentes no interior de igrejas e catedrais.
Em Roma, por exemplo, emocionei-me ao percorrer o silencioso interior da Basílica de São Pedro; igual emoção ocorreu-me no Santuário de Fátima, em Portugal. O mesmo acontece no Brasil, por onde ando, seja em capitais, seja no interior. Ao entrar nesses templos, logo após o pelo-sinal e rápida prece, os olhos, maravilhados, rapidamente percorrem a beleza das imagens, dos altares e da arquitetura interior, em meio àquele ambiente sombrio, misterioso, de meditação, de oração e de profundo respeito, que vou encontrando a cada passo. Há pouco tempo, ao visitar a Catedral de San Telmo, em Buenos Aires, alegrou-me encontrar ali o altar de Nossa Senhora Santana, padroeira de minha cidade.
Bem próximo dos lindos canais da cidade de Aveiro, Portugal, tive, porém, uma grande decepção. Lá, à porta do prédio que me parecia um belo templo católico, com torre e sino, fui barrado pelos gentis seguranças, que me explicaram: “Não senhor. Aqui não é igreja, mas prédio da Câmara Municipal.” Na verdade, faltava-lhe o símbolo maior: a cruz.
Pois é. Às vezes a gente se engana por conta de velhas e antigas manias...
Maceió, dezembro de 2010.
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