SANTANA ENXADRÍSTICA

Djalma Carvalho

Mexer no baú do passado é caminhar num fértil terreno de recordações e de saudades. Então, cientes disso vamos fazê-lo de vez em quando, experimentando pitadas deliciosas de histórias do chão nativo.
Em busca de reminiscências, folheei, dias atrás, encadernação, com capa dura, vermelha e letras douradas, na qual reuni meus “Escritos Publicados na Imprensa – 1º volume”, período de 1959 a 1986.
Nela, encontrei, logo no início, a longa nota jornalística – já com papel amarelado –, intitulada “Santana Enxadrística”, que publiquei na Gazeta de Alagoas, edição de 16 de janeiro de 1960.
Lembrei-me, logo, do genial cronista Teotônio Vilela, de saudosa memória, que disse: “Lá vou eu pendurado em lembranças.”
Pois bem. Esporte da mente, da inteligência, da lógica e do raciocínio, o xadrez é conhecido como “jogo, ciência e arte”.
A história do jogo de xadrez vem de tempos imemoriais, de origem controversa. Teria surgido na China no século III a. C. Outros historiadores (Wikipedia Livre) dizem que surgiu “após a conquista da Pérsia pelos árabes, estes assimilaram o jogo e o difundiram no ocidente, levando-o ao norte da África, Europa e até a Espanha e Itália, por volta do século X”. Daí para o resto do mundo.
Coube ao inglês Sir William Jones (1746-1794) compor em 1763 o poema Caíssa – a ninfa grega que teria habitado rios, montes e prados – que fez menção à conhecida deusa do xadrez.
O poema do inglês é baseado na obra do enxadrista italiano Marco Girolano Vida (1485-1566), autor de Jogo de Xadrez, longo poema medieval escrito em 1513, em que o italiano descreveu pela primeira vez Caíssa, como musa inspiradora do enxadrismo.
O xadrez chegou a Santana do Ipanema em 12 de outubro de 1957, data da fundação do Clube de Xadrez de Santana do Ipanema, feliz e oportuna iniciativa de Aloísio de Almeida Sampaio, gentil e comunicativo Coletor Federal, lotado na cidade.
Uma vez fundado o clube, logo foi arregimentado o número de cerca de 100 sócios. Como não havia sede própria, tabuleiros foram distribuídos, com anuência do proprietário, sobre mesas do Bar do Tonho, agradável estabelecimento que então existia no centro da cidade, local bastante frequentado pela elite santanense, intelectuais e pelos novos enxadristas.
O xadrez é jogo fácil para quem possui boa memória e deseja exercitar o cérebro e construir estratégias inteligentes. Jogo divertido, porém de muita atenção, concentração, paciência e raciocínio. Jogo de batalha, na qual sairá vencedor o jogador que prender o rei do adversário, com o lance final chamado xeque-mate.
Muita gente, ali no Bar do Tonho, aprendeu a jogar xadrez e participar, com entusiasmo, de torneios e campeonatos promovidos pelo clube. Tanta empolgação houve com o novo esporte, que o “Torneio Sertanejo” foi realizado entre enxadristas de Santana do Ipanema, Palmeira dos Índios e Garanhuns.
Torneios comemorativos de aniversários do clube foram realizados em 1958 e 1959, com ampla participação dos sócios enxadristas. No torneio de 1958, por exemplo, comemorativo do primeiro aniversário, realizado em 12/10/1958, coube o 1º lugar, modéstia à parte, a este cronista; e o torneio comemorativo do segundo aniversário (1959) teve o seguinte resultado: 1º lugar – o garoto Brás; 2º lugar – João Airton M. Feitosa; e 3º lugar – Sílvio Bulhões.
O torneio “Aloísio Sampaio” e o campeonato de 1960 foram as últimas competições realizadas na história do clube.
Com a transferência de Aloísio Sampaio para São Miguel dos Campos, o clube entrou em declínio, infelizmente. Foi perdendo sócios, arrefecendo os ânimos, degringolando – e, de forma inapelável, fechou. Vida curta, então.
Como diriam os românticos poetas: vida que teve a “duração da rosa de Malherbe”.
Mas o clube, que valeu a pena ter existido, ficou na história do “jogo, ciência e arte” em Santana do Ipanema.

Maceió, dezembro de 2020.

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