POESIAS DO SAUDOSO RAUL MONTEIRO

Djalma Carvalho

Djalma de Melo Carvalho
Membro da Academia Santanense de Letras.

Rebuscando meus arquivos, encontrei cartas trocadas, em 1993, com o saudoso romancista e poeta Raul Pereira Monteiro, uma delas acompanhada de dois bem elaborados sonetos. Hoje veremos apenas o soneto IPANEMA.

IPANEMA
(Raul Pereira Monteiro)
Rio amigo, como a própria existência,
A tua água é intranquila e transitória,
Mas não foge do teu leito a imanência
De baliza geográfica da História.
Do fugaz torvelinho da fluência,
De enchentes que inda guardo na memória,
Sinto saudade, que é a mágoa da ausência,
Amarga saudade, assaz merencória...
É que não voltam meus áureos dias
De animações juvenis em teu leito,
Ao assanho das águas fugidias...
Entanto, como o teu álveo – fiel
Há de ficar gravado no meu peito
O que te devo na vida – um laurel!

Como se sabe, Raul Monteiro era irmão do também falecido poeta José Pereira Monteiro, filhos de tradicional família de Santana do Ipanema. Ambos eram meus bons amigos, de saudosa memória.
Diga-se que Raul, nascido no sempre lembrado povoado Capelinha, muito jovem deixou seus pagos e largou-se para o estado da Paraíba, tendo sido, ali, bem sucedido como profissional e como chefe de família. Vez por outra, e saudoso, retornava a Santana do Ipanema para visitar familiares e amigos ou para assistir à festa da padroeira. Nunca esqueceu sua cidade natal, nostálgico sentimento que nutria vida afora e que, de forma recorrente, expressava em seus livros, em seus escritos, notadamente em seus poemas.
Homem culto, gentil, educado, atencioso, bom amigo. Autor de muitos livros publicados, alguns deles com especial dedicatória a este cronista, tal nossa sincera amizade de muitos anos.
Vejamos trechos da carta de Raul a mim endereçada.

“João Pessoa, 21/02/1993.

Djalma, um forte abraço.

Num maço de folhas de papel datilografadas, encontrei ontem um dos sonetos que escrevi sobre o Ipanema – o rio de nossa infância vivida nesses lados de Santana e Capelinha.
Embora não seja ainda a poesia “panemesca” que lhe prometi, vai para você, contudo, uma cópia do meu achado laudatório de louvável dedicação. É que o rio Ipanema é mesmo uma valiosa dádiva de Deus aos viventes que dele se valem ao longo de sua trajetória em demando do “São Francisco”.
Em Capelinha, por exemplo, víamos os rebanhos que procediam de Samambaia, do Desumano e de outras localidades, descendo para beber ora nalgum poço que ainda restava, ora em cacimbas rasas, feito levadas, que os criadores abriam para o gado em geral.
Então, Djalma, para mim o Ipanema merece todos os louvores possíveis, e ainda, a saudade imensa dos que nele se banharam e, como eu, estão distantes agora e com poucas condições de marcarem presença na ribeira natal onde abundam as lindas craibeiras, símbolo de Alagoas.
Mande-me suas impressões sobre “Ribeiros de Capelinha”, que lhe dediquei, bem assim acerca do “Ipanema”, que lhe envio agora.
Rezemos para que a água do “São Francisco” chegue pujante a Santana do Ipanema.
Cordialmente,
Raul.”

O poeta Raul Monteiro era membro efetivo da Academia Paraibana de Poesia.
Em outra crônica, veremos o soneto Ribeiros de Capelinha, que integrou o livro denominado Mosaico Poético, publicado no ano seguinte.

Maceió, outubro de 2016.








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