Para a devida reflexão sobre o papel da sogra na constituição de nova família, com o casamento da filha ou do filho, eis a seguinte frase colhida em página livre do Google, de autor desconhecido: “Sogra não é parente, é acidente.”
A propósito dessa afirmativa, devo admitir que, sabiamente, o bom marido ou a boa esposa não deveria fazer restrições a eventuais e infelizes comportamentos da sogra, sob pena de o fato vir influenciar, negativamente, na continuidade da boa relação do casal.
De vez em quando, encontro-me com “Saulo Beijinho”, apelido que amigos e colegas de trabalho deram a esse aposentado da velha guarda. Chega ele ao supermercado, bem à vontade, de bermuda, óculos escuros, cabelo chuviscado de branco, passo lento, sempre acompanhado da esposa, demonstrando levar boa vida, apesar da avançada idade.
Quanto ao apelido, dizia tratar-se de beijinhos que lhe davam as “meninas”. Logo entendíamos o motivo das aspas da matreira resposta, pelo seu malandro piscar de olhos.
Disse “velha guarda” porque, antes da aposentadoria, ele fazia parte de um grupo de colegas acostumados a alegres noitadas em bares e boates de Maceió de outrora, festejando a vida de consagrados boêmios. Claro que, nessas circunstâncias, não lhes faltava, com razão, a boa companhia de uma garota aqui ou um aceno de um rabo de saia acolá. Embora fossem todos casados, comprometidos, não se dispunham deixar de lado farras e serestas, porque todos eles sempre foram amantes da noite alagoana.
Conheci-o como talentoso técnico em computação, funcionário competente e sujeito muito querido dos colegas. Costumava contar, orgulhosamente, essas aventuras nos intervalos do horário de trabalho, quase sempre provocado por alguém de sua estreita amizade, naturalmente conhecedor de sua vida boêmia.
Certo dia não se saiu bem, depois de noitada de farra na festiva orla marítima de Maceió. Aconteceu que, logo de manhã, ainda ressacado, fora “convidado” pela esposa e pela sogra a levá-las, no seu automóvel, à missa dominical da igreja do bairro.
No trajeto, porém, notou que aos pés havia um estranho sapato feminino dançando pra lá e pra cá, às vezes até prejudicando o frear e o acelerar do veículo. Puxa! Na certa, deveria ser sapato do programa da noite anterior, deixado no carro por engano ou desleixo. Ou fruto, certamente, de brincadeira de amigos, de intolerável mau gosto. Para evitar, então, indagações indesejáveis e álibi falso, resolveu cortar o mal pela raiz. Baixou, sorrateiramente, o vidro do carro e jogou o dito sapato fora.
Pronto. Ao chegar, finalmente, à porta da igreja, fechou-se o tempo. Cadê o outro sapato da sogra?
Maceió, novembro de 2018.
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