O "FARNESIM" DO JOGADOR ÍNDIO

Djalma Carvalho

Djalma de Melo Carvalho
Membro da Academia Santanense de Letras, Ciências e Artes.

O Índio, jogador do Ipanema no final da década de 1950, não sabia a diferença que existe entre a profissão de dentista e a de médico. Não sabia, mas provocara gargalhadas durante a excursão que o Ipanema fizera às cidades de Arcoverde e Belo Jardim, Pernambuco, no período de 30 de outubro a 2 de novembro de 1959, um feriadão.
Pois bem. Após sagrar-se tricampeão de futebol do interior alagoano no triênio 1957/1959, o Ipanema, verdadeira seleção, recebeu convite para jogar nessas cidades, possuidoras, também, de boas equipes de futebol.
A cidade de Santana do Ipanema, orgulhosamente, ainda vivia as emoções e o clima de comemorações da vitoriosa jornada do seu principal time de futebol, invicto, nos gramados alagoanos.
A origem do convite teria sido resultado de sugestão de jogadores tricampeões, oriundos das referidas cidades, entre os quais Tide, Tina e Geraldo Belo, naturalmente movidos por dosagem de orgulho e de sentimento triunfal de que estavam, então, possuídos. De Pesqueira e São Bento do Uma, também cidades do Agreste pernambucano, procediam Chiquinho e Joãozinho, respectivamente.
A diretoria do Ipanema, por meio do Sr. Sebastião Pereira Bastos, admirador de futebol e principal responsável pela conquista do tricampeonato, aceitou o convite e marcou a excursão.
Fui incluído na delegação do Ipanema como cronista esportivo. A viagem iniciou-se na sexta-feira, 30 de outubro, com pernoite em Arcoverde, onde, no dia seguinte, se realizou o primeiro jogo. Na segunda-feira, 2 de novembro, dia de finados, o Ipanema jogou em Belo Jardim. Em ambos os embates, saiu-se vitorioso.
Filho de Santana do Ipanema, o Índio era excelente jogador e titular da equipe, mas brincalhão, engraçado, contador de anedotas e piadas. Divertia os companheiros de clube nas excursões.
Em Arcoverde, no hotel onde ficara a delegação do Ipanema, houve um ligeiro e preocupante problema de saúde bucal com um dos jogadores, que exigiu a presença urgente de um dentista.
À entrada do hotel, o Índio apressou-se em interpelar o dentista, que chegava para o atendimento de urgência: “Doutor, estou com um ‘farnesim’ na barriga.” Resposta imediata do dentista: “Procure um médico. Sou dentista.” E adentrou o hotel, livrando-se do jogador.
O “farnesim”do Índio era diarréia.

Maceió, setembro de 2018.

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