As eleições deste ano têm revelado características impares. Sei, nas redes sociais, muitos foram os que usaram frase semelhante. Os que a usaram, de algum modo apontou fatos que a caracterizaria como tal. Sob a óptica da contribuição cultural analisemos agora.
Observamos com ênfase neste segundo turno que os eleitores estão ministrando e tendo verdadeiras aulas, de todas as disciplinas que estudam e lecionam alunos e professores, no âmbito do Ensino fundamental e Médio. Senão vejamos:
PORTUGUÊS (Língua Portuguesa): Cada eleitor tornou-se um neologista exarcebado! A cada momento, criando novos verbetes. Bolsominos, Petralhas para definir o seguidor de determinado candidato. Uma enxurrada de novos termos surgindo: homofobia, coitadismo, facista, reacionário, escatalógico, mentecapto, misogênico. A maioria desses, já constam dos dicionários.
Desses termos aí, o que me puxou pro “pai dos inteligentes” foi “Misogênico”. “Misogenia: subst. fem. Ódio ou aversão às mulheres; aversão ao contato sexual com mulheres. É o ódio, desprezo ou preconceito contra mulheres ou meninas. Pode se manifestar na exclusão social, discriminação sexual, hostilidade, androcentrismo. Fonte: Google.com.br”
MATEMÁTICA: Todo eleitor tornou-se, em potencial, exímios matemáticos que entendem de índices de pesquisas, gráficos, porcentagem, e ainda por cima constrói equações, usam as quatro operações que dão sempre como resultado: 13 ou 17.
CIÊNCIAS (BIOLOGIA): De repente todos nos tornamos hábeis entendedores de procedimentos cirúrgicos como uma Colestomia. “Colestomia: é a exteriorização de uma porção do intestino grosso através da parede abdominal para desviar o trânsito intestinal.O objetivo é desviar as fezes de uma lesão na região perianal.fonte: convatec.pt”
HISTÓRIA: Passamos todos a “experts” em história geral e contemporânea. Com especialidades nos regimes totalitários. de Adolf Hitler, Benito Mussolini, Hugo Chaves, Fidel Castro, citados diariamente nas rodas (e grupos virtuais) de conversa. Entendemos de Fascimo, Nazismo, Anarquismo. “Fascimo: Subst. Masc. Movimento político e filosófico ou regime (como o estabelecido por Benito Mussolini na Itália, em 1922) que faz prevalecer os conceitos de nação e raça sobre os valores individuais e que é representado por um governo autocrático centralizado na figura de um ditador. Fonte: Google.com.br”
GEOGRAFIA: Dividimos o Brasil em dois. Uma parte vermelha outra verde e amarela. Vimos (numa charge) o nordeste brasileiro sorridente abraçando o Brasil, desfalcado deste. Vimos a xenofobia, o racismo, cortar o país em dois do Aiapoque ao Chuí.
ENSINO RELIGIOSO: Assustados, estarrecidos presenciamos a intolerância religiosa, através de vídeos publicados nas redes sociais. Cristãos, não cristãos, exotéricos, espíritas, ateus, umbandistas digladiando-se unicamente para impor ideologias, convicções políticas.
LÍNGUA ESTRANGEIRA (Inglês/Espanhol): Passamos todos a poliglotas. Assistimos vídeos de estadistas, representantes da ONU, do Papa Francisco, de Trump, de B. Obama, sem tradução, sem legenda, sem dublagem, e entendemos tudo!Até o que é Fake News.
ARTES: Passamos a entender que o Brasil pode (se determinado candidato ganhar) virar uma “Guernica - 1937” quadro de Pablo Picasso. Com propriedade e conhecimento de causa sabemos sobre a Lei Rouanet. “Lei Rouanet: Lei nº 8.313/91 que institui o Programa Nacional de Apoio a Cultura. O nome remete ao seu criador, o então secretário nacional da Cultura, diplomata Sérgio Paulo Rouanet. Fonte: Google.com.br”
EDUCAÇÃO FÍSICA: Entendemos quantas calorias serão gastas e quanto de energia (geralmente os adversários) precisam consumir (pão com salame, copo de suco, feno, capim) para uma passeata, uma caminhada, uma carreata.
QUÍMICA: Apuramos os sentidos e conseguimos detectar e reconhecer um adversário político, pela fala, sotaque, pelo traje, pela cor da pele, corte de cabelo, pelo cheiro, pelo tato, time que torce, tatuagem, refrigerante que toma, desodorante que escolhe no supermercado, marca de carro, pelo jeito que senta, o tipo de música que ouve.
FILOSOFIA: Tornamo-nos nas últimas semanas grandes filósofos. Deitamos verborragia, sobre o sentido da existência (nossa, dos candidatos, do voto, o por quê de votar, de Deus! E do seu Filho Jesus!) onde nos encaixamos nisso tudo, estamos (agora) preocupados com a ética, os bons costumes, o que é corrupção, qual o destino do povo (em especial os mais carentes! As minorias), os destinos da educação, da nação, o jogo sujo pelo poder.
Dentro desta perspectiva, queira ou não, as eleições deste ano foram verdadeiros aulões, para os candidatos ao ENEM /2018.
Pra encerrar:
Meu irmão Sérgio Campos mandou-me uma mensagem de watsap que esclarecia: “ Gente! Não é piada!”
Uma, que se dizia educadora, recebe uma mensagem da colega (as duas votavam em candidatos diferentes) e:
-Veja. Está aí, em PDF...
-Ah! Eu sabia que tinha mutrêta! Com esse partido no meio!
-Amiga, PDF é o formato do arquivo...
Mas não a convenceu. A briga foi feia.
Na década de 70. Um político “raposa velha” aqui do sertão. Levou os títulos dos empregados tudo pra votar.E claro, votou no lugar deles. Aí, teve um que achou de perguntar:
-Coroné! Em quem foi mesmo que nóis votemos?
-Cala boca menino. Tu num sabe que o voto é secreto.
"-O que vc espera depois do 28?
-O dia 29."
Fabio Campos, 26 de outubro de 2018.
No blog fabiosoarescampos (Breve) o Conto: A Oração.
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