JUCA ALFAIATE

Djalma Carvalho

Ao completar 90 anos de idade, Dona Hilda de Carvalho Rego, em sessão solene realizada em 8 de março de 2006, recebeu da Câmara Municipal de Santana do Ipanema a Comenda Sinhá Rodrigues. Justa homenagem prestada a uma dama muito querida, professora aposentada, orgulhosa de ter dedicado muitos anos de sua vida à educação de várias gerações de santanenses. Coincidentemente, naquela data se comemorava o Dia Internacional da Mulher.
Terminada a solenidade, uma simpática jovem procurou-me, dizendo chamar-se Luciana, filha de Juca Alfaiate. Lembrou-me a homenagem que eu fizera à memória de seu pai, citando-lhe o nome em palestra realizada, em 3 de julho de 2004, na Loja Maçônica de Santana do Ipanema, da qual fora ele orgulhoso membro. Nessa data, a referida Loja Maçônica completava 34 anos de fundação.
Minhas paradas à porta da sua alfaiataria eram para boa conversa, para longo papo. Via-o, ali, sem camisa, tendo à vista em sua barriga uma longa cicatriz, resultante de antiga e invasiva cirurgia que lhe salvara a vida.
Profissional competente, correto, trabalhador. Muitas vezes a ele encomendei a confecção de calças e paletós, conjunto que me era entregue no prazo prometido, sem atraso, sem problema.
Residia no início da Rua Antônio Tavares, conhecida como Rua do Sebo, no centro de Santana do Ipanema. Na sala ao lado, instalara sua oficina de trabalho. Era ali sua fonte de renda para manutenção e educação da família. Tinha vida vivida com dignidade.
Depois que outros alfaiates abandonaram a profissão, José de Souza Pinto tornou-se, salvo engano, o único alfaiate da cidade. Partiram todos eles, definitivamente, para fontes mais rentáveis, para empregos fixos e estáveis.
Juca Alfaiate ficou, e foi ficando.
Com o advento de modernas máquinas industriais de produção em série, lojas de confecções de roupas e demais tipos de estabelecimentos especializados, a profissão de alfaiate, pelo Brasil afora, entrou em declínio. Muitos, claro, ainda insistem na mesma profissão, prestando esse serviço a grandes lojas e magazines, fazendo ajustes, consertos, etc. Ademais, registre-se que as mais das vezes a profissão de alfaiate não passou de pais para filhos, porque estes se dedicaram a outras profissões, estudaram, ingressaram em faculdades, tornando-se engenheiros, médicos, advogados, etc.
Disse Victor Hugo: “Cantar é conquistar a alma.” E o maestro Júlio Medaglia completaria: “Música é emoção: completa os anseios da alma.” Boêmio, de vida alegre, apaixonado por músicas românticas, Juca Alfaiate gostava de cantar e dançar. Não perdia serestas e bailes do Tênis Clube Santanense. Lá estava ele, acompanhado da esposa, aprumando passos no salão. Ou, de microfone em punho, a cantar românticas músicas do passado.
Anualmente, com numeroso grupo de amigos, viajava à Fazenda Urubu, zona rural de Floresta, Pernambuco, para pescar no riacho do Navio, afluente do rio Pajeú. Festiva pescaria, que mais parecia passeio recreativo de muitas brincadeiras, resenhas e de histórias engraçadas. A propósito do nome do lugar da pescaria, curiosamente “Riacho do Navio” tornou-se tema para a criação da famosa música, de igual denominação, na voz de Luiz Gonzaga, o “Rei do Baião”, composta em parceria com Zé Dantas.
Pessoa, afinal, muita querida na cidade, pai de família exemplar, Juca Alfaiate faleceu em 2004.

Maceió, janeiro de 2019.

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