DE APARECIDA ÀS ESCADARIAS DA SÈ

Djalma Carvalho

Djalma de Melo Carvalho
Membro da Academia Santanense de Letras.

No período de 1º a 6 deste mês de novembro, estivemos participando de mais uma viagem turística, vivendo novas emoções, como costumamos dizer. Na verdade, viajar, como forma de lazer, nunca faz mal a ninguém, sobretudo aos saudáveis idosos que acabaram de desligar-se de jornadas de trabalho de anos a fio e de muita luta, premiados que foram com a sagrada e a tão sonhada aposentadoria.
Desta feita, em boa companhia de Marcos Aurélio, o querido Marquinhos, um dos sócios da empresa Viver Viagens e Turismo, estivemos no circuito nacional Aparecida, Guaratinguetá, Campos do Jordão e São Paulo, com esticada, pela rota do vinho, até a cidade de São Roque, interior paulista. Compunha-se a caravana turística de 30 alegres e dispostos alagoanos, observada no grupo ampla e esmagadora maioria do sexo feminino.
Na cinzenta manhã do primeiro dia de viagem, desembarcamos no aeroporto de Guarulhos. Em luxuoso ônibus, chegamos à cidade de Aparecida, para hospedagem. Deu-se em seguida a visita à basílica que abriga Nossa Senhora Aparecida, a santa negra padroeira do Brasil, encontrada por pescadores no rio Paraíba do Sul, em 1717. O Santuário Nacional, então, pelo seu imenso complexo turístico-religioso, é considerado pelos historiadores como “o maior centro de peregrinação da América Latina”. A cidade de Aparecida tem aproximadamente 40 mil habitantes, população que se multiplica assustadoramente em época de romaria.
Na viagem a Campos do Jordão, passamos por Guaratinguetá, para ligeira visita à casa e ao museu de São Frei Galvão (Santo Antônio de Sant’Ana Galvão). Também estivemos na Catedral de Santo Antônio onde Frei Galvão (1739-1822), o primeiro santo brasileiro, foi batizado e onde celebrou sua primeira missa, uma vez ordenado sacerdote. Pílulas milagrosas, lembranças e santinhos foram adquiridos pelos nossos companheiros de viagem.
Logo à tarde, chegamos a Campos do Jordão, após viagem por estradas tortuosas subindo a serra da Mantiqueira, em cujo topo, a 1628 metros acima do nível do mar, se acha encravada a turística cidade paulista, considerada a “Suíça Brasileira”. Fundada em 1874, Campos do Jordão é a cidade mais alta do Brasil. Seu típico casario assemelha-se ao de Gramado (RS) e a construções europeias, notadamente as da região dos Alpes suíços; recebe, anualmente, milhares de turistas atraídos pelo seu clima frio, serrano. O centro da cidade é bem cuidado e bem movimentado, com jardins e lojas de famosas marcas. À noite, bares e restaurantes ficam lotados. Como ninguém era de ferro, boa parte da caravana, enfrentando o frio de 13 graus, ali aportou para provar petiscos regionais e deliciar-se com taças de vinho de boa qualidade.
No dia seguinte, chegamos, finalmente, à imponente cidade de São Paulo, sede do capital nacional, com seus arranha-céus, com seus capitães da indústria e do comércio, com seus bancos, com suas riquezas, com a mão de obra nordestina, com seus políticos, com seus problemas.
Três dias e três noites livres, para compras, para visita a shoppings centers, ao Mercado Municipal e para noitadas de samba e viola no Bar Brahma, esquina das avenidas Ipiranga e São João, vizinho do hotel Marabá, onde ficamos hospedados.
A programada caminhada – city tour a pé comandada pelo guia de turismo Miqueli Andrigo – a partir da Praça da República até a Praça da Sé, passando pelo Viaduto do Chá, Mosteiro de São Bento, com retorno pela Avenida São João, deu-nos a oportunidade ímpar de revisitar o centro de São Paulo, deslumbrados, todos, com a bela arquitetura dos edifícios antigos, a exemplo do majestoso Teatro Municipal.
Durante a caminhada, assustados ficamos com tantos mendigos, drogados e moradores de rua – excluídos da sociedade e sem rumo de vida – que ocupavam praças, ruas e avenidas do centro histórico da cidade.
Nas escadarias da Catedral da Sé, por exemplo, esses trapos humanos encenavam o degradante espetáculo social diário que deve envergonhar o capital paulista que tanto financia a luta pelo poder político nacional e esquece o dever de casa, que exige firme solução para tal chaga social do nosso tempo.
Após duas horas e meia de voo noturno, desembarcamos, finalmente, no aeroporto de Maceió, prontos para nova aventura turística.

Maceió, novembro de 2016.

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