Djalma de Melo Carvalho
Membro da Academia Santanense de Letras, Ciências e Artes.
O espetáculo musical, bastante divulgado na imprensa e realizado há pouco no amplo pátio do Shopping Parque Maceió, contou com a presença de meio mundo da sociedade alagoana. Lá estavam pessoas conhecidas, amigas, que receberam meus cumprimentos e o meu abraço, com rápida conversa recheada de relembranças.
Lá encontrei, por exemplo, um dos filhos do saudoso colega Alberto Paiva, falecido em janeiro de 1997, companheiro de trabalho na agência centro do Banco do Brasil, em Maceió.
Havia conhecido Alberto Mário Buarque de Paiva por volta de 1955, exercendo ele a função de contador da agência do BB em Santana do Ipanema. (Eu ainda não era funcionário do BB). De espírito empreendedor, foi ele idealizador e um dos responsáveis pela construção do moderno prédio da antiga sede da AABB local, inaugurada em 8/7/57. No salão do novo clube, a festa do réveillon daquele ano, a caráter, constituiu-se em evento muito comentado na cidade, sobretudo pelo seleto número de convidados.
Alagoano da gema, ele conhecia a todos da província, seus defeitos e virtudes.
Em 1975, encontrei-o como administrador do prédio da agência em Maceió. Líder, inteligência privilegiada, bonachão, amigo, elegante no trato, admirado. Mestre na máxima, no trocadilho, na irreverência. Imperturbável e sereno ao violão. Fazia da boêmia, das noitadas alegres e felizes, rodeado de amigos, familiares e colegas de trabalho, seu modo especial de viver, de dar sentido à vida. Estava aposentado.
Alberto Paiva era irmão de Aldemar Paiva (1925–2014), ator, radialista, jornalista, escritor, poeta, declamador, compositor, publicitário. Um dos fundadores da Rádio Difusora de Alagoas, em 1948. Dirigiu, por 18 anos, o famoso programa radiofônico Pernambuco Você é Meu, da Rádio Clube de Pernambuco. No Recife, viveu sua vida artística, em rádio, jornal, teatro, televisão. Conheceu e conviveu com Chico Anísio, Nelson Ferreira, Capiba e outros expoentes da cultura pernambucana.
Na missa do sétimo dia da morte de Alberto Paiva, foi lida, ao término da celebração, a crônica que eu escrevera e fora publicada nos jornais de Maceió.
De Aldemar Paiva recebi longa carta de agradecimento, datada de 25/01/1997, nos seguintes termos:
“Meu caro Djalma:
Segundo você na carinhosa crônica que escreveu sobre o meu desditoso irmão Alberto, já se passaram mais de quarenta anos desde quando se conheceram em Santana do Ipanema.
Naquele tempo, servindo ao Banco do Brasil e integrados ao espírito provinciano da comunidade santanense, vocês estendiam por sobre os dias de muito suor e muito trabalho, as agradáveis noites estreladas de lazer e de lirismo.
Você documentou pelo coração, tudinho com referência à vida profissional e boêmia do nosso inesquecível Alberto. Até a sua irresistível paixão pelo paraíso onde se instalou com a família na pitoresca Barra de Santo Antônio, fez parte do seu registro sentimental e verdadeiro.
Obrigado, Djalma, pelas referências espontâneas e elogiosas em torno desse alagoano, apegado como poucos às belezas de sua terra e ao carinho da sua gente.
Dê o merecido desconto ao meu entusiasmo e ao meu orgulho de ter nascido seu irmão, mas, ninguém da nossa geração me pareceu mais íntegro, mais inteligente e mais telúrico do que ele.
Imagine que quando foi consultado para ocupar um cargo de maior destaque longe de Maceió, optou conscientemente pela tranqüilidade do seu apartamento na velha Avenida da Paz. Seu mundo de felicidade se encontrava justamente entre o alarido dos netos e “umas e outras” aos fins de semana, quando escancarava as portas e o coração aos parentes a amigos diletos.
Veja só a ironia do destino. À véspera da inauguração oficial do cantinho que chamaria de “PARAÍSO DO ALBERTTO”, Deus decidiu levá-lo. Obediente e discreto como viveu, partiu sem o prenúncio de um gemido ou de uma lágrima. Na Santa paz dos justos depois de um dia inteiro de sorrisos e felicidade ao lado dos seus. Acho que essa sua morte prematura foi uma das poucas coisas que lhe aconteceram sem o prévio conhecimento de “dona Moça” – a sua inseparável Helenita.
Atenciosamente,
Aldemar Paiva.”
Finalizando, devo dizer que Alagoas ficou mais pobre com a morte dessas duas destacadas personalidades de nossa terra.
Maceió, 22 de julho de 2018.
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