Há poucos dias, em conversa ao telefone, perguntei ao meu irmão Gileno se em Santana do Ipanema havia alguma rua com o nome de Hermínio Tenório Barros, o falecido farmacêutico Moreninho.
Antes mesmo de receber dele resposta negativa, José Fontes Barros, filho do farmacêutico e proprietário de conceituado escritório de contabilidade naquela praça, antecipara-se e, com certa mágoa, me dizia não existir na cidade, nesse sentido, nenhum tributo ou homenagem a seu falecido pai.
No entender do cronista, boticário e farmacêutico são a mesma coisa. Aquele é o preparador e vendedor de remédios na botica, termo em desuso, e este o que exerce a farmácia. Procedente de Quebrangulo, Alagoas, Moreninho foi as duas coisas ao mesmo tempo a partir de 1934, quando chegou à cidade e ali não encontrou nenhum esculápio a prestar assistência médica ao santanense.
O boêmio, como o poeta, será sempre um sonhador, um vivedor. Desapegado das coisas materiais, estará ele a sonhar com as belezas da vida, vivendo seus momentos mais felizes, como quiser e assim entender.
Com razão, Gonzaguinha completa: “Viver, e não ter a vergonha de ser feliz. Somos nós que fazemos a vida, como der ou puder ou quiser, sempre desejada.”
Viver de emoções não é pecado nenhum, muito menos participar de festas, de serestas, de noites boêmias, apaixonar-se e amar intensamente. Tudo será opção de cada um, procedimento que não interessa a ninguém, nem às más línguas, nem às pessoas mal resolvidas na vida.
Moreninho, vivedor e boêmio por excelência, sempre acompanhou, em noitadas alegres, seu inseparável amigo Zequinha Bulhões, também seresteiro e que fez encher, então, os céus da cidade de primorosos acordes de violão e de notas musicais de valsas inesquecíveis.
O mérito do farmacêutico, também assim vivendo, foi curar e salvar vidas.
Refletindo, chego à conclusão de que a sociedade santanense tem sido até agora, se não omissa, injusta com o farmacêutico Moreninho que, numa época em que tudo era difícil, cuidou da saúde daquela gente, ministrou remédios, fez partos, pequenas cirurgias, curou, salvou vidas, fez milagres, embora não fosse graduado em medicina.
Ressalte-se que Dr. Arsênio Moreira, baiano de Jequié e médico pertencente ao II Batalhão da Polícia Militar de Alagoas, somente chegaria à cidade anos depois. Esse médico, que fazia da medicina verdadeiro sacerdócio, permaneceu em Santana do Ipanema até fins da década de 1940, tendo falecido em São Paulo, em fevereiro de 1950. O povo santanense, rendendo-lhe justa homenagem, deu seu nome à principal avenida da cidade.
A lembrança primeira que tenho do farmacêutico vem do meu tempo de criança no sítio Gravatá, vendo-o de branco, a cavalo, indo aplicar injeção num adoentado morador do lugar. Tempos depois, conheci-o já proprietário da farmácia instalada na segunda casa do lado direito do sobrado colonial que pertencera ao coronel Manoel Rodrigues da Rocha, no centro da cidade. Ele, ali, atendia a todos, bem humorado, sempre risonho e de boas gargalhadas. Elegante no trato e no trajar, costumava usar roupa de linho branco, de legítimo fio inglês.
Afinal, passado todo esse tempo do falecimento de Hermínio Tenório Barros, a cidade lhe deve significativa dívida de gratidão pelos serviços que ele prestou a seu povo. Dívida, aliás, que agora poderia ser resgatada pelos preclaros vereadores e pela ilustre prefeita do município, dando o nome de Moreninho, com toda justiça, a uma rua da cidade que o acolhera durante muitos anos. Por que não?
Maceió, fevereiro de 2011.
Comentários