O VELHO KHADAFHI
(Clerisvaldo B. Chagas, 23 de fevereiro de 2011).
Com os recentes pipocar de rebeliões pelo Oriente Próximo e pelo norte da África, ressurge o másculo rosto de Muammar Abu Minyar Khadhafi. Conheci Muammar na era de setenta, após sua chegada tempestiva ao poder, em 1969. A revista Seleções, de circulação internacional, com assinaturas no Brasil, gostava de enaltecer aliados dos americanos. O homem forte da Líbia foi apresentado pela citada revista em longa reportagem elogiosa sobre a sua coragem, inteligência e percepção. Elogiar ditaduras ou fazer vistas grossas, sempre fez parte da estratégia dos Estados Unidos, desde que esses regimes lhes fossem favoráveis. Quando o país não apoiava os interesses dos gringos, sentia o peso de campanhas públicas e camufladas, visando à queda do insistente corajoso. Muammar Khadhafi é e sempre foi polêmico desde sua tomada do poder em 1969. Após a chamada revolta da Líbia, entrou como coronel e tomou algumas providências internas que tiveram variadas repercussões. Declarou ilegal a bebida alcoólica e jogos de azar no país. Solicitou a saída de bases americanas e inglesas do seu território. Expulsou as comunidades judaicas e aumentou a participação das mulheres na sociedade. Gostava de apreciar os elogios que falavam sobre ele na imprensa mundial. Sempre se apresentou em traje de deserto, mas elegante, mostrando zelo pela aparência e planejamento nas fotografias. Khadhafi, dirigindo pela força uma nação pequena, parecia querer se mostrar, ora como estadista, ora como um Rommel em combates no deserto.
No poder há 42 anos, o calejado coronel apoiou grupos islâmicos de libertação nacional no período 1970-1980. Em 1992-93, a ONU lhes impuseram sanções pelo financiamento ao terrorismo no mundo. Reabilitado depois, ao renunciar o apoio ao terror, Muammar, quando parecia cair no ostracismo, dava um jeito de aparecer. Como não estava incomodando muito o Ocidente, ficou na tolerância externa, mesmo sendo ditador de longas datas do seu povo sofrido, filhos do Sol.
Já com um filho engatilhado para sucedê-lo, Muammar começa a estremecer com as suas quadragenárias mordomias. Quanto ao filho, ao invés de pedir renúncia de tudo, prefere uma guerra civil, como anunciou. Já está dizendo quem é. A ambiguidade americana de apoio/não apoio às ditaduras amigo/inimigas, ajuda na alimentação às cobras cascavéis, vigilantes implacáveis da escravidão de direitos individuais. É patética a mudança repentina de opinião americana diante das revoltas populares. Daria para ser encenado com sucesso pelo palhaço Tiririca em seus espetáculos circenses.
Estamos contemplando agora o ocaso violento de Muammar, assim como foi o início do seu poder. Em conjunto solidário com outros dirigentes absolutos da região, desmoronam-se os reinos. É levantar os dedos no adeus ao coronel, à raposa do deserto, ao idealista de ontem, ao VELHO KHADHAFI.
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