LETRAS E FUZIS

Clerisvaldo B. Chagas

LETRAS E FUZIS
(Clerisvaldo B. Chagas, 29 de abril de 2011).

Já foi comentado o assunto de dificuldades nas pesquisas, relativas a duas causas importantes. Uma delas acontece nas fontes expostas, como os escritos das placas de metais ou não, colocadas nas obras durante as inaugurações. Es-tão nas pontes, edifícios, praças, geralmente com datas, autores e dados complementares. Com a proliferação das drogas, essas placas são arrancadas pelos viciados e vendidas a preço vil nos ferros velhos para a compra do craque, maconha ou cocaína. Pior do que esses vândalos são a ignorância, a má vontade, o ciúme político dos que deveriam zelar pelo patrimônio público, pela história da sua terra. Esses agem criminosamente destruindo todas as identificações de gestões passadas, nas fontes expostas; queimam, escondem, destroem documentos, dão fins aos arquivos e, no mínimo, dificultam as ações dos pesquisadores com as célebres frases: “Não sei; não vi; não conheço”.
O coronel José Lucena Maranhão foi prefeito eleito em Santana do Ipanema, quando os próprios dirigentes civis eram interventores. Governou Santana como prefeito na gestão 1948-50, foi deputado e prefeito de Maceió. Como tenente, foi chamado a Mata Grande, onde Virgulino Ferreira e seus irmãos praticavam arruaças, como fizeram em Pernambuco e correram para Alagoas, residindo em Matinha de Água Branca. Lucena cercou a casa, houve resistência e tiroteio. Virgulino e os irmãos escaparam, mas no final da refrega Lucena entrou na casa, viu um morto e indagou: “Quem é esse velho?” Era o pai do futuro Lampião. Homem pacato, mas sem autonomia. Não houve intenção de matar pai de ninguém. E na função de major, Lucena também comanda as volantes que dão fim ao próprio Lampião, em 1938. Um predestinado e marcado pela espada. Chegado a Santana a frente do 2º Batalhão de Polícia em 1936, aliou-se ao padre Bulhões e passou, junto com o padre, a comandar os destinos do município.
O escritor Oscar Silva, que viveu uma fase sob o seu comando, dizia que o major “gostava de soldado”, isto é, amava e prestigiava a farda; que “suas letras eram poucas, mas compensava com a inteligência e determinação”. Após a hecatombe dos Angicos, Lucena virou coronel e foi prefeito, construindo o mercado da carne e sendo um dos fundadores do Ginásio Santana.
Ora! Pelo exposto no primeiro parágrafo, sempre pensamos que o fundador da biblioteca de Santana tivesse sido o “Prefeito Cultura”, Hélio Cabral, criador do museu do município. Já pelo parágrafo segundo, não víamos como Lucena iria preocupar-se com biblioteca, sendo um homem de armas. Jubiloso engano! Eis que uma equipe do Departamento de Cultura da atual gestão municipal descobriu dois documentos os quais estamos publicando de forma inédita, agora. Atenção, santanenses! A “Biblioteca Pública Municipal de Santana do Ipanema”, foi criada em 4 de outubro de 1948, Lei nº 16, gestão do prefeito José Lucena de Albuquerque Maranhão, 1948-50. A mesma biblioteca recebeu a denominação de “Breno Acióli”, na segunda gestão do prefeito Adeildo Nepomuceno Marques, 1966-70, através da Lei nº 291/66 de 22 de abril de 1966. Parabéns a equipe da prefeita Renilde Bulhões em ter desvendado esse mistério tão importante da nossa história. Aqui também, a louvação póstuma ao coronel Lucena que bem soube construir uma ponte entre LETRAS E FUZIS.
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