Por este dias, tenho observado perambulando pelo bairro monumento, um “hippie”. A figura é super excêntrica, parece ressurgido lá dos anos 70. De quando jovens universitários, resolveram revolucionar, e protestar contra a corrida armamentista das superpotências mundiais no período da Guerra Fria. A onda era “Paz e Amor”, “Faça Amor não Faça Guerra!”. Era um protesto pacifista, sem violência. Diferente dos protestos dos jovens de hoje, que destroem, picham monumentos históricos, ou simplesmente agridem fisicamente, e até matam, no caso dos homofóbicos, racistas e fascistas.
Voltemos ao nosso “hippie” do novo século. Este, que ora anda vagando por nossa cidade, parece não protestar contra coisa nenhuma. Seu protesto parece restringir-se apenas aos hábitos de higiene. Mantém uma vastíssima barba suja, um ralo cabelo, ensebado e grisalho. Metido em roupas surradas e encardidas. Não deu pra perceber se tem tatuagens. Um cigarro entre os dedos. Não aparenta sofrer de distúrbios mentais. Muito menos é anti-social. Já o vi conversando tranquilamente com transeuntes. Não se trata de um mendigo. É um artesão. Confecciona bijuterias pra vender. Tem um pequeno mostruário de suas artes, numa flanela preta e empoeirada. Quando se desloca pra qualquer ponto, sai puxando, um carrinho desses que as crianças levam pra escola contendo seus pertences. O jeito como anda, parece um turista, que acabou de desembarcar de um boing no aeroporto. Que classe!
Toda essa desenvoltura me faria voltar no tempo. E relembrar dos anos setenta, na praça do Monumento. A sala de visita de Santana do Ipanema, de todos os tempos. Ali, de frente ao Ginásio Santana, em tempos idos, dava de aparecer todos os tipos humanos possíveis: “Hippies”, mendigos, doidos. Teve um tempo que apareceu um doido com características semelhantes à desse misterioso “hippie” que ora ressurge entre nós. A diferença era que possuía um chapéu de massa digno de Indiana John, e não falava com ninguém. Ganhou dos moleques, o apelido de “Django das Biatas” pelo chapéu e pelo estranho hábito de catar pontas de cigarro. Surgiria até um boato de que seria um agente da polícia federal disfarçado. O que estaria investigando? Até hoje nunca se soube.
E tinha “Zé Reis”, também ele seria considerado à época como doido. Pelas suas excentricidades: Sua carroça enfeitada com exageros, a roupa de bombeiro que colocava em dias festivos, etc. Não tinha fama de agressivo, mas se o encrencasse, endoidava mesmo! E Zé “Reis” achou de pegar uma cisma com uma música internacional de muito sucesso na época, só porque dizia no início: Hei Hei... Isso porque os meninos da praça, fizeram uma versão com aquela música que dizia: “Rei! Rei! Ladrão de galinha!” Se alguém cantasse a música na sua presença, ele tomava aquilo como chacota a sua pessoa!
Doutor Adelson Isaac de Miranda, o saudoso odontólogo, que já foi diretor do Ginásio Santana na década de 70. Tinha seu consultório bem ali de frente. À praça que seria com justeza, rebatizada com seu nome, e passaria a ostentar desde então, um pedestal com o busto do ilustre diretor. Por ser, um grande apreciador da boa música, gostava de um rádio portátil. Certa vez, achou de colocar na janela do seu consultório, o seu aparelho receptor ligado. De repente o rádio começou a tocar a música, afeta ao humor de Zé “Reis”. E tome “ Hei, Hei..” Bem na hora que o lunático ia passando. O doido não contou conversa, tirou do bolso sua atiradeira (peteca de gancho), municiou com uma bala de barro de louça. E sapecou tremendo balaço no rádio, que foi cair longe! Destroçado e sem pronunciar mais nenhum som.
Fabio Campos 29/04/2011 É Professor em S. do Ipanema – AL.
Comentários