CHEIRO DE CAVALO
Clerisvaldo B. Chagas, 8 de junho de 2011
Os jornais publicaram sem muito destaque, o falecimento da esposa do ex-presidente João Batista Figueiredo, o último da ditadura militar 1964-1985. A ex-primeira dama Dulce Figueiredo, vinha sofrendo com problemas graves, tendo falecido na segunda-feira. Foi sepultada ontem, deixando, com a divulgação, um pouco da lembrança do seu marido. Dona Dulce havia leiloado 218 objetos pertencentes a Figueiredo que governou o país no período 1979-1985. Foi ele quem encaminhou ao Congresso Nacional o projeto de lei que dispunha sobre Anistia.
Mal educado, bruto e arrogante, mesmo assim foi quem amaciou a sua maneira a ditadura para o ingresso de novos tempos no Brasil. Foi sucedido na presidência por José Sarney que era seu antigo adversário de partido, vice de Tancredo Neves, eleito indiretamente pelo Congresso Nacional. Com a morte de Tancredo, antes da posse, Figueiredo não quis entregar a faixa presidencial a Sarney na cerimônia de posse em 15 de março de 1985. Dizia ele, o general Figueiredo, que Sarney era um “impostor”, vice de um presidente que nunca havia assumido. No ciclo militar, o seu período foi longo, tendo passado seis anos no poder. Entre outras coisas do seu governo, houve anistia aos punidos pelo AI-5 e perdão aos crimes de abuso de poder, tortura e assassinato cometidos por órgãos de segurança; extinção do bipartidarismo; garantia de processo à abertura política, iniciado por Geisel, que resultou no fim do regime militar; criação do estado de Rondônia e amplo programa de reforma agrária no norte do Brasil.
Apesar da sua brutalidade, os humoristas não paravam de retratá-lo. Chegou a dizer que gostava mais de cavalos do que de gente. Certa feita um presidente de um país vizinho do sul, mostrou dois belos cavalos e perguntou qual dos dois escolheria e, ele prontamente respondeu: “Os dois”. Algumas frases do último ditador correram trechos: Sobre a abertura política: “Quem não quiser que abra, eu prendo e arrebento!”. Sobre o poder: “prefiro cheiro de cavalo a cheiro de povo”. Um garoto perguntou o que ele faria com um salário mínimo. Resposta: “A única solução é dar um tiro no coco”. Outra vez disse: “O que sei é que no dia da posse (de Tancredo) irei embora de Brasília levando apenas minhas mulheres”. Referia-se aos cavalos. Quando perguntado sobre o aniversário do AI-5, respondeu: “Quem é esse menino? Entre outras frases, ficou em evidência a sua declaração de despedida ao jornalista Alexandre Garcia, para a TV Manchete: “Bom, o povo, o povão que poderá me escutar, será talvez os 70% de brasileiros que estão apoiando o Tancredo. Então desejo que eles tenham razão, que o doutor Tancredo consiga fazer um bom governo para eles. E que me esqueçam.
Como o ex-presidente pediu, o povo brasileiro o esqueceu mesmo. Somente lembramos o homem agora por causa da morte de Dona Dulce. Vamos esquecer novamente a figura que não gostava de cheiro de povo, mas preferia CHEIRO DE CAVALO.
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