CÉU E INFERNO SE MISTURAM

Clerisvaldo B. Chagas

CÉU E INFERNO SE MISTURAM
Clerisvaldo B. Chagas, 4 de agosto de 2011

Vamos examinando a nova onda de refugiados no mundo e ficamos penalizados com essa realidade. Muita gente deixando seus lares, suas origens, famílias e pátrias, espoliadas de tudo, sem direito mínimo, escapando com vida numa angústia sem fim. Arrancadas das suas origens, orgulho em xeque, dignidade por terra e esperanças nenhuma na visão lúgubre de um túnel sem luz. Arrastam-se as multidões com olhos fixos no horizonte desconhecido, no céu azul inalcançável, no solo que lhes viu nascer. E como se fossem rebanhos de nada, vão entrando em espaço ignorado, almas tênues, corações feridos, cenhos moribundos.
Não estamos em guerra mundial, mas os nossos semelhantes refugiados no planeta havia chegado a 43,7 milhões em 2010. 80% dessas criaturas vão para países em desenvolvimento e 64% dos que se abrigam no Brasil são africanos. Outras informações baseadas na Agência da ONU para Refugiados dizem que o nosso país abriga refugiados de 77 nacionalidades, números que impressionam sobre a gravidade do tema mundial. As questões que expulsam os indivíduos dos seus países são as mais diversas como conflitos armados simples ou guerras civis, questões climáticas e catástrofes naturais. Algumas nações não querem estrangeiros, outras estabelecem cotas e outras ainda discriminam cor da pele, religiosidade, poder aquisitivo. No Brasil, segundo dados de julho deste ano, a maior representatividade de refugiados é a angolana que totaliza 1,6 mil pessoas. Os colombianos são 630 pessoas e cerca de 450, são oriundas da República Democrática do Congo. Mas o Brasil também recebeu pessoas do próprio continente numa proporção de 22,88%, mais 470 asiáticos e quase 100 de países europeus. Temos ainda, 250 refugiados liberianos e outros 200 iraquianos.
Impressiona também a afirmação divulgada com a visita ao Brasil do chefe da Acnur, Antonio Guterres, ex-primeiro-ministro de Portugal e ex-presidente do Conselho Europeu: 43,7 milhões de pessoas, em dados globais, estavam fora de seus países ─ o maior número de refugiados dos últimos 15 anos. E o pior, segundo ainda Guterres, é que “há tendência de cada vez mais pessoas afetadas”. "Vivemos em seis meses uma crise por mês. Na Costa do Marfim foram 160 mil refugiados. Na Líbia, um milhão de pessoas cruzou as fronteiras. Depois teve Síria, Iêmen e a fronteira do Sudão e Sul do Sudão e agora a emergência dramática na África. Uma crise por mês em média e nenhuma das crises antigas se resolveu, as crises antigas não morreram", disse Guterres.
E na complexidade humana onde explodem sentimentos, não cabe mais a Geografia do amor, da concórdia, da tolerância. O lobo do homem vai sendo cavalgado por ele mesmo, na incerteza da planície desvairada. É aqui no relevo deslubrante onde CÉU E INFERNO SE MISTURAM.


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