ADEUS FEIRA DO PASSARINHO
Clerisvaldo B. Chagas, 9 de agosto de 2011
O cotidiano comum também vai fazendo história em Alagoas. Conhecemos a tradicional Feira do Passarinho, em Maceió, desde os nossos amargos tempos de repúblicas estudantis na capital. Ali estavam conosco os futuros médicos Erivaldo Braga das Chagas (nosso irmão mais velho), Dalmário Nepomuceno Gaia, mais o futuro prefeito de Carneiros, Aristeu e, o depois, empresário das confecções em Maceió, Juarez Delfino, entre outros. A Feira do Passarinho, nessa época, já era famosa, servindo aos mais desgarrados cidadãos de bem e aos mais perigosos ladrões e desordeiros que por ali se aninhavam. A Feira estendia-se na largura, de uma rua a outra, ocupando toda a longa calçada, invadindo barracos fixos e os trilhos da ferrovia. A fama daquela feira sempre foi enorme, atraindo para o ambiente imundo e não seguro até mesmo turistas sedentos de coisas inusitadas. Acompanhávamos quase diariamente as ações de alguns investigadores que se destacavam pela Imprensa, graças às ações praticadas diariamente na Feira do Passarinho, entre eles, o Cassimiro. Dali também eram estampadas as fotos e reportagens que exaltavam os feitos de bandidos assíduos do aglomerado. Quem quisesse comprar de tudo, como bicicletas, relógios, rádios de pilhas e outras coisas mais complexas, o lugar certo era as imediações do Mercado Municipal.
Se a Feira do Passarinho já era famosa, nos últimos tempos passou a ser alvo de reportagens curiosas da mídia brasileira, por conta da passagem do trem pelo meio das bugigangas. Os ambulantes colocavam o material de venda sobre os trilhos imprensados entre barracos. No apito do trem, puxam os comerciantes suas mercadorias com tanta naturalidade como se nem houvesse perigo nenhum.
O que nunca deu para entender foi a dificuldade de governos sucessivos em acabar de vez com a eterna imundície da Levada e toda a área da Feira do Passarinho. Sobre a remoção dos comerciantes locais, não tem cabimento o velho choro do jargão a “feira sustenta inúmeros pais de família”. Este problema social já devia ter sido resolvido há décadas. A resistência deveria ter sido enfrentada antes, quando uma estrutura digna tivesse sido construída para abrigar a todos. Esse medo das autoridades em enfrentar um problemão social e físico, fez com que se chegasse a tantas revoltas resistentes para modernizar o trecho. Aliás, nem se sabe ainda, se o local vai ser humanizado. O que urge é a presença do VLT para minorar questões que se arrastam sobre o transporte urbano. E se agora a Prefeitura corre contra o tempo para abrigar os comerciantes que ficaram sem espaço, dela mesma foi a culpa relativa às sucessivas gestões. Vamos desfilar no trem de luxo em terreno imundo, em paisagem degradante? Aguardemos os próximos cinco meses, previstos para o término das obras. Quanto ao novo local de comércio, somente o tempo dirá sobre a manutenção do nome de batis-mo da feira. Mesmo assim, já vamos acenando tal lencinho branco da janela do Veículo Leve sobre Trilhos: ADEUS FEIRA DO PASSARINHO!
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