Ervas e Erveiros

Antonio Machado

ANTONIO MACHADO

A doença nasceu com o homem, gerando daí sua preocupação em curar, ou ao menos, atenuá-las. As árvores e arbustos em toda natureza, que mais tarde a ciência denominou de botânica, têm prestado aos homens uma grande contribuição em todos os aspectos de vida, tornando-se assim, as plantas indispensáveis a vida humana, muitas delas com grande poder terapêutico capaz de curar muita doenças. Foram os meizinheiros, os raizeiros e erveiros, os primeiros médicos da humanidade, bem antes de Esculápio, os meizinheiros já manipulavam as ervas, as plantas, transformando-as em inguentos e remédios para a cura de seus males. Há poucos dias foi publicada uma matéria, focando a extinção das ervas medicinais, mormente com as queimadas. Em 2009, publiquei um artigo alertando sobre o mesmo aspecto, após um levantamento feito por mim, dentro do meu município, Olho d´Água das Flores, encravado na zona sertaneja do Estado, constatei que setenta por cento das ervas medicinais estavam em extinção. Em sendo descendente do maior garrafeiro do município, Primo Pinto Júnior (1.892-1.967), mas conhecido com Primo Tunico, levou sua vida fazendo garrafadas das ervas medicinais e ensinando remédio ao povo de seu tempo, sua casa parecia um hospital dentro do mato, onde eram tratadas sob os cuidados do velho meizinheiro, tio primo, com eu o chamava, usava muitas plantas, porém estas eram as mais comuns: Aroeira, Jurubeba, Velame, Quina-quina, Barbatimão, Pitó, Erva cidreira, Erva doce, Laranjeira, Jurema, Arruda, Batata-de-purga, Marcela, Malvarisco, Pau Darco, Imburana de cheiro e de cambão, Incó, Umbuzeiro, Jericó, Chapéu-de-couro, Alfavaca, Manjericão, Losna, Pepacuanha, Alecrim, Arruda, Alento, Capim santo, Mostarda, Girassol, Catingueira rasteira, e tantas outras ervas e plantas medicinais que permeavam o sertão, constituindo-se a matéria prima dos feitores de garrafadas populares, quando a figura de um médico era desconhecida, os remédios eram manipulados pelos curiosos, que mesmo dentro de seus parcos conhecimentos, prestavam um grande serviço a comunidade tão carente dos conhecimentos científicos de um médico. Os meizinheiros eram os doutores sem diploma que iam de parteiros a garrafeiros, pareciam seres iluminados no meio das comunidades, como pessoas detentoras de um conhecimento a mais, mormente quando a dor cruciava as pessoas numa enfermidade que parecia incurável, eram essas abnegadas pessoas curiosas que faziam às vezes do cirurgião, do obstetra e do clinico geral. Quando aparecia um médico tinha que ser formado em “tudologia”, seus conhecimentos tinham que ser abrangentes, a altura das doenças das pessoas. Porém as reservas florestais, notadamente as sertanejas, estão sendo queimadas, e consequentemente, as ervas medicinais estão sendo devastadas sem nenhum controle, essas plantas que foram antes da “butica” (farmácia) o lenitivo das dores e os males das pessoas. Como seria bom que houvesse uma política de preservação desses valores medicinais, através de uma conscientização na comunidade, na criação da farmácia viva, como já existem algumas, mas sem em pequena monta, as escolas, clubes de serviço, IBAMA, enfim envidasse esforços no sentido de não deixar morrer essas ervas tão significativas para as comunidades.
As feiras livres do interior foram no passado celeiros desses produtos medicinais, quando não havia os PSF., nos municípios, os erveiros que comercializam com as ervas, hoje sentem dificuldades para adquirir seus produtos, e tende se acabar, muitas ervas já estão em extinção, cito apenas como exemplo a Quina-quina, que existia nesta região em grande quantidade, e por seu valor medicinal tanto para as pessoas como para os animais, praticamente está extinta, face a não preservação do produto, além também de outras plantas do mesmo naipe, ou se preserva hoje, ou amanhã não se tem.

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