AS SERRAS ESTÃO “CACHIMBANDO”

Antonio Machado

Dizem que as palavras nascem, cresce e morrem, partindo deste pressuposto, sempre me interessei em pesquisar vocábulos ou palavras que estão caindo em desuso, isto há mais de dez anos e já consegui catalogar cerca de 500 palavras, como se diz em francês “demo-dê” (isto é, fora de moda), talvez a expressão francesa já esteja também, em desuso. E dentre minha despretensiosa pesquisa, figuram vocábulos e epigrafa este artigo “cachimbando”. Deve-se aos árabes as invenções das consoantes, entretanto, foram os fenícios que criaram as vogais dando sentido as palavras, notadamente, a língua portuguesa, a última flor do Lácio, nos cantares de Luiz de Camões (1524-1580). E o que é a palavra? Graciliano Ramos (1892-1953), escreveu que a palavra foi feita para se dizer. E a palavra? Pode-se dizer que é um conjunto de letras que formam as sílabas, e, consequentemente, as palavras, o poeta analfabeto Colly Flores, diz que a palavra escrita é a comunicação e a linguagem dos povos civilizados.
Os povos de todos os tempos sempre se comunicaram cada um a seu modo, além dos idiomas, existem os dialetos regionais, que se não são oficiais, mas são correntios entre as pessoas de determinados lugarejos e aldeias. Os lexicógrafos, polígrafos e gramáticos, gradativamente, veem se debruçando sobre estas variantes linguísticas com alguns interesses, o que, é deveras importante para o aprimoramento do vernáculo.
Dentro deste mesmo contexto, surge uma vertente sugestiva e cultural que se insere em grau, gênero e número, é a linguagem das pessoas analfabetas, que não tiveram a oportunidade de estudarem que usam palavras até que praticamente não mais se usa. Não foi um epigrama de Anatole France (1880-1964), mas foi um epigrama do poeta Colly Flores que ouviu atentamente uma consulta de uma mãe, quando consultava uma filha com um médico, na sala em que ele também se encontrava quando tomava um soro venoso contra a mordida de uma lacraia. Dizia a mãe da jovem de 15 anos, residente no Sítio Guarani que: “Doutor, minha filha vem está viçando muito, e eu queria que o senhor lhe passasse um medicamento”, deixando o médico meio perplexo diante da citação, e perguntou o que ela sentia, ao que a mãe aflita respondeu “ela anda a noite toda para a latrina”, a privada e concluiu “Doutor eu acho que ela tá com andasso” deixando o médico mais sem entender a consulta. E perguntou “e o que ela faz lá?” “bacua muito, Doutor”. Foi quando o médico querendo entender à pergunta, perguntou: “e o que mais ela faz?” e ela repondeu “caga” levando o médico entender que ela tinha o vício de comer barro ou terra. E concluindo seu epigrama matuto o poeta Colly Flores contou que: estando sentado dentro de um ônibus uma moça bem jovem começou a vomitar, levando o motorista a perguntar a mãe da jovem: “foi comida?” E a mãe respondeu “foi, mas vai casar”. E segue por aí esse corolário de vocábulos que os eruditos desconhecem a exemplo de cachimbando (a serra coberta de neve) um fenômeno natural da natureza, mormente no inverno quando as nuvens estão mais carregadas e próximas da terra. A exemplo de outras como: califom, camisão, cuêiro, meio aquele, quicé, tubiba, lamprôa, zonzeira, prosa, abiscoitar, tedéu, imbuança, quenga, trifuá, maleita, puara, arruaça, etc.
O que é interessante em todas estas palavras, hoje no ostracismo, é que ainda são lembradas, se elas não estão no Aurelião, mas ainda são usadas, via de regra e até entendidas, Sócrates (470 a.C. - 399 a.C.) dizia: “Só sei que nada sei”.

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