Precisa ser muito ingênuo ou mesmo desligado da realidade para acreditar cegamente e emotivamente em políticos que se consideram de extrema direita. Ou pior: precisa ser bastante covarde e cruel para crer que o mundo foi feito para alguns e outros não! Primeiro, porque quaisquer políticas extremistas são a priori perigosas pois se afastam categoricamente dos ditames da razão. Isso por si só já seria um motivo de preocupação e desconfiança.
Segundo, porque as políticas extremistas não pretendem, de modo algum, governar para todos. As políticas extremistas têm pavor à democracia e às liberdades. Ora, se odeiam o matiz democrático, seguem apenas um plano político: limitar as liberdades e impor uma moral moralizadora a todos. Que moral seria essa? A moral da intolerância e da "higienização social", certamente. Todavia, uma intolerância apenas contra o que lhes soa diferente e, por ser diferente, repugnante. Os outros são os demônios do mundo totalitário. Sim, toda e qualquer política extremista flerta com uma política totalitária, e os seus políticos apresentam não só um perfil autoritário, mas tirânico e repleto de racismos, preconceitos e violências. Populistas nefastos, apresentam-se como os salvadores da nação e do tempo em si.
Terceiro: as políticas extremistas, geralmente, apelam para os símbolos da tradição: família e religião. Elas promovem, através de sua propaganda articulada (aprendida e compreendida desde os fascismos italiano e alemão entreguerras), uma noção simplista e maniqueísta do mundo em que existem dois lados apenas: o do bem (que elas valorizaram através de forjados fundamentos éticos como sendo o lado delas) e o do mal (os seus adversários e inimigos políticos e sociais). Vejam: a política extremista escolhe inimigos, não só políticos, mas também sociais. Os inimigos políticos são os adversários políticos e a própria democracia. Os inimigos sociais são cidadãos e cidadãs que não compactuam com a sua necropolítica teocrática de ódio e distinção.
Quarta: ao conseguirem o poder, que fazem os extremistas? Procuram impor, através de leis e terror, além da moral moralizadora, uma realidade fictícia totalitária, onde todos devem obrigatoriamente se adequar aos seus padrões. Nesta sociedade imaginária totalitária, não há espaço para o diferente: são eleitas raças "superiores" (frequentemente associadas à divindade), são distinguidas classes sociais "divinizadas" e "superiores"(a aristocracia, a plutocracia, a teocracia, etc). Neste espectro anti-social, não há espaço para os vulneráveis e miseráveis.
As fronteiras são bem postas e nítidas. Muros sempre serão erguidos, sob as mais variadas justificativas. Crianças amanhecerão mortas, afogadas nas praias, por fugirem do caos e da brutalidade. Atentados vingarão. Novos Hitlers e Mussolinis surgirão nas tevês em cores, sorrindo, fazendo poses e promessas. A xenofobia é dissimulada através de um patriotismo doentio e, muitas vezes, falso. As políticas extremistas são anti-humanas.
Concluindo:
Que tipo de salvação buscam os iludidos com as extremas direitas? O horror apenas. A instalação da barbárie. A sujeição das mulheres. O extermínio de LGBTQI. O genocídio de minorias vulneráveis, como as indígenas. A segregação racial legitimada por lei e pelos cidadãos(ãs). Em um mundo robotizado, destituído de reflexões reflexivas, as extremas direitas promovem não só o culto à ignorância e à violência, mas, também, a instituição de um delírio coletivo destruidor, capaz de promover contradições e paradoxos, como se a razão pudesse aceitar o anti-humano como uma saída lógica para "salvar", de uma vez por todas, a civilização.
Por isso, não se escandalizem quando encontrarem mulheres que odeiam o feminismo (não só por não o entender, mas ainda por acreditar no papel de submissão e de inferioridade da mulher que essas políticas promovem); artistas contra as liberdades e contra a própria arte, defendendo abertamente a censura; LGBTQI reproduzindo discursos homofóbicos e discriminatórios; quando negros atacarem políticas públicas de reconhecimento e anti-segregação; judeus compactuando com políticos extremistas racistas; índios defendendo a devastação das terras e da comunidade indígenas; quando religiosos evangélicos decidirem matar em nome de um deus, etc. Isto já aconteceu tempos atrás e agora se repete assustadoramente.
Essas pessoas que compactuam com tais políticas não buscam salvação. Elas creem que os outros é que precisam ser salvos: do comunismo, do socialismo, do diabo, da moral moderna, do liberalismo, da corrupção, de outros deuses, das drogas, do pecado, dos vícios, do mal, da homossexualidade, da influência da arte, dos artistas, da civilização, do mundo. Por odiarem, de algum modo, a si mesmas, projetam, nos demais seres humanos, as suas fraquezas, vontades, desejos, raivas, iras, ódios, invejas, rancores, frustrações, traumas, desencantos com a humanidade. Em sua busca de salvar os outros, tais pessoas acreditam que podem e devem agir com extremismos, preconceitos, discriminações, com violências gratuitas e, até mesmo, com a morte, o assassinato.
Adriano Nunes
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