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Estatuto da Criança e do Adolescente - 25 anos de lutas e desafios

Geral

Por Cristina Fontenele Adital (*)

Considerada uma das legislações mais avançadas do mundo, o ECA ainda enfrenta desafios na implementação. O combate à pobreza ainda é um desafio.

Fonte: http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=PT&cod=85730

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) completa, nesta segunda-feira, 13 de julho, 25 anos de existência. Promulgado em 13 de julho de 1990, foram três anos de escrita do documento até tornar-se lei e pelo menos 10 anos de discussões até ser incluído na Constituição. Este processo envolveu movimentos sociais, como o Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua, da Igreja e suas pastorais, como a do Menor e a da Criança, e ainda o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

Considerada uma das legislações mais avançadas do mundo por organismos internacionais, para as organizações de proteção aos direitos da criança e do adolescente, o ECA ainda não foi implementado na íntegra. Os desafios são grandes, há déficit de vagas em creches, a alta evasão escolar no Ensino Médio, o grande número de jovens negros mortos nas periferias das cidades e o reduzido número de programas governamentais focados em lazer e cultura para a juventude. Mais recentemente, a Câmara dos Deputados aprovou a redução da maioridade penal, o que poderá ser uma das alterações mais drásticas na garantia dos direitos humanos da infância e adolescência.

Em entrevista à Adital, Clóvis Boufleur, gestor de relações institucionais da Pastoral da Criança, acredita que o Brasil está vivendo um momento desafiador. Ele diz que há uma percepção por parte da sociedade de que o ECA não dispõe de medidas eficientes para tratar da violência praticada por jovens. E essa sensação de impunidade levou ao atual impasse, no qual parte da sociedade tem apoiado ações, como a redução da maioridade penal.

Diante deste cenário, Boufleur pontua o que seria uma dupla omissão do governo. Primeiro, ao não divulgar, claramente, as punições previstas no ECA e, segundo, ao não aplicar, corretamente, as medidas socioeducativas.

Desafios

Outra lacuna existente no ECA, segundo Boufleur, é a normatização da primeira infância, que vai dos zero aos seis anos de idade, que visa a fortalecer os vínculos da criança com a família, já desde o parto. A Pastoral da Criança, junto a outras organizações, tem lutado pela aprovação do Projeto de Lei nº 6.998/2013, o Marco Legal da Primeira Infância. A medida foi aprovada em Comissão Especial na Câmara dos Deputados, em março de 2015, e seguiu para sanção do Senado. O texto gerou bastante discussão, em especial por propor a ampliação da licença paternidade de cinco para até 20 dias, dividindo os cuidados com a mãe.

Avanços

Entre os avanços alcançados a partir do ECA, Bloufleur cita a redução do trabalho infantil. De 1992 a 2013, o trabalho infantil, no Brasil, reduziu em 59% ou 4,6 milhões de casos (de 7,8 milhões, em 1992, para 3,2 milhões, em 2013). A região Nordeste foi a que apresentou a maior redução do trabalho infantil no período de 1992 a 2013: 64,6%. Entre 2012 e 2013, o trabalho infantil no Brasil diminuiu 10,6% ou 379.751 casos, reduzindo de 3.567.589 milhões para 3.187.838 milhões. (Dados Fundação Abrinq)

O gestor da Pastoral cita ainda a redução do analfabetismo entre crianças e jovens, e o acesso à pré-escola. Em 2007, de acordo com o Censo Escolar, o Brasil tinha 78,3% das crianças de quatro a cinco anos matriculadas na pré-escola. Em 2012, o número avançou e já são 83,7% das crianças dessa faixa etária na escola. (dados Abrinq)

Boufleur diz que, apesar de ter todas as condições para se tornar um país desenvolvido e oferecer condições dignas a suas crianças e adolescentes, o Brasil apresenta comportamentos e iniciativas que não colocam em prática as conquistas alcançadas. Segundo ele, um país que não prioriza os recursos direcionados às crianças, ainda vai demorar décadas para se transformar numa sociedade desenvolvida. \\\\\\\"Não semeamos as oportunidades para as pessoas conviverem de maneira mais avançada. Nossa sociedade ainda precisa melhorar de forma geral os comportamentos?.

Em alusão aos 25 anos do ECA, a Fundação Abrinq-Save the Children divulgou uma lista de 25 desafios para que o país de fato garanta todos os direitos das crianças e adolescentes e também elencou as 25 maiores conquistas que a legislação trouxe para a criança e a adolescência no Brasil.

25 desafios do ECA:


1.Combate à pobreza

2. Moradia

3. Saneamento básico

4. Crianças e adolescentes em situação de rua

5. Sub-registro

6. Trabalho infantil

7. Violência

8. Medidas socioeducativas

9. Abuso e exploração sexual

10. Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente

11. Conselhos Tutelares

12. Educação de qualidade

13. Acesso à creche

14. Distorção idade/série

15. Abandono escolar

16. Acesso à cultura e lazer

17. Mortalidade infantil

18. Mortalidade na infância

19. Mortalidade materna

20. Desnutrição

21. Obesidade infantil

22. Gravidez na adolescência

23. Acesso ao pré-natal

24. Proporção de partos cesáreos

25.Aleitamento materno

25 Conquistas do ECA:


1.Plano Nacional de Educação

2. Redução da taxa de analfabetismo

3. Universalização do Ensino Fundamental

4. Universalização da pré-escola

5. Respeito à cultura da criança na educação

6. Número de crianças registradas

7. Lei Menino Bernardo

8. Redução do trabalho infantil

9. Criação do Conselho Tutelar

10. Criação do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente

11. Criação do Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente

12. Medidas socioeducativas

13. Lei da Aprendizagem

14. Exploração sexual de crianças e adolescentes virou crime hediondo

15. Redução da taxa de mortalidade materna

16. Redução da taxa de mortalidade infantil

17. Redução da taxa de mortalidade na infância

18. Desnutrição infantil

19. Teste da linguinha

20. Teste do pezinho

21. Teste da orelhinha

22. Teste do coraçãozinho

23. Aleitamento materno

24. Atendimento pré-natal e perinatal

25.Atendimento especializado à criança e ao adolescente com deficiência

Atos

Nesta segunda-feira, 13, entidades de direitos humanos e movimentos sociais, como o Movimento Nacional de Direitos Humanos, Pastoral do Menor, Central Única dos Trabalhadores, Pastoral da Juventude, Aldeias Infantis SOS, Frente Estadual contra a Redução da Maioridade Penal, Levante Popular da Juventude, Conselhos Tutelares, entre outras, promovem uma caminhada e ato público no Centro de São Paulo em Defesa do Estatuto da Criança e do Adolescente e contra a Redução da Maioridade Penal.

Inicialmente, a concentração é no Vale do Anhangabaú, a partir das 14h. Em seguida, às 14h30, os participantes, incluindo crianças e adolescentes de projetos sociais, saem em caminhada até a Praça da Sé, onde às 15h ocorrem apresentações culturais. Às 17h, está previsto um ato público contra a Redução da Maioridade Penal e em Defesa do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Protestos contra a redução da maioridade penal e em defesa do Estatuto da Criança e do Adolescente também estão previstos em outras capitais, como Aracajú [Sergipe], Porto Alegre [Rio Grande do Sul], Natal [Rio Grande do Norte], Rio de Janeiro, Curitiba [Paraná], Campo Grande [Mato Grosso do Sul], São Luís [Maranhão], Manaus [Amazonas], Belo Horizonte [Minas Gerais], Belém [Pará], Vitória [Espírito Santo], Fortaleza [Ceará], Salvador [Bahia], Recife [Pernambuco], Distrito Federal.
A Frente Nacional contra a Redução da Maioridade Penal também está organizando várias atividades nos estados brasileiros. Em Salvador [Estado da Bahia], ativistas marcharam, nesta segunda-feira, 13, da Praça 2 de julho (Campo Grande) até a Câmara Municipal. O ato fooi em repúdio à aprovação do projeto de redução da maioridade na Câmara Federal. A PEC [Proposta de Emenda Constitucional] 171 deve ser votada em segundo turno no Congresso Nacional, nesta terça-feira, 14, e, se aprovada, segue para o Senado.

(*)Cristina Fontenele
Estudante de Jornalismo pela Faculdades Cearenses (FAC), publicitária e Especialista em Gestão de Marketing pela Fundação DomCabral (FDC/MG).
E-mail
cristina@adital.com.br
crisfonte@hotmail.com

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