O Centro Cultural do Sertão, com sede na cidade de Poço das Trincheiras, comemorou nesta sexta-feira (28) o centenário de Nascimento do Monsenhor Fernando Monteiro de Medeiros em solenidade realizada na Câmara Municipal.
A reunião contou com a presença do Professor Alberto Pereira Santos ex-pároco da Paróquia de São Cristóvão de Santana do Ipanema.
Após a palestra aconteceu um congraçamento entre os presentes.
Apresentamos a seguir o conteúdo da palestra dada pelo Professor Alberto.
Centenário de Monsenhor Fernando Medeiros
Ao ser convidado para proferir uma palestra sobre o Mons. Fernando Medeiros, cujo centenário de nascimento celebramos neste mês, senti-me triplamente lisonjeado: lº- porque o convite partiu de Tobias Medeiros, irmão do homenageado, meu amigo de longa data, a quem devoto grande estima e admiração pela sua integridade de caráter e dedicação à cultura de nossa região.
Tobias e eu fomos colegas de estudo no Seminário Arquidiocesano Nossa Senhora da Assunção, em Maceió, por cinco anos. Sempre estudioso e destacado membro do Grêmio Literário São José, onde apresentava trabalhos de bom gosto literário, vislumbrando, assim, o futuro homem de letras que seria. Ao deixar o Seminário, formou-se em Direito. Professor da Universidade Federal de Alagoas e em outras atividades que abraçou, é o homem extremamente dedicado ao que faz. Mas o seu pendor pelas belas letras e, em especial, pela pesquisa histórica o credenciaram para membro efetivo da Academia Alagoana de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, com a publicação de diversas obras que engrandecem a nossa história e as nossas letras pátrias. De seu idealismo nasceu o Centro Cultural do Sertão que deve merecer uma atenção especial por parte dos poderes constituídos. Atenção não apenas moral mas também financeira,para que esta grande obra se consolide como pólo irradiador de cultura em nossas paragens sertanejas.
2º- porque de Poço das Trincheiras, berço do Mons. Fernando, guardo em meu coração lembranças inapagáveis pelos quase l6 anos que passei como guia espiritual de sua gente humilde e piedosa. Meu especial carinho, em memória, ao casal Sebastião Medeiros Filho (Medeirinho), irmão do homenageado, e Noêmia Medeiros, prima dileta do orador, que sempre me acolheram em seu lar como um filho querido. Também para Noêmia, a nossa homenagem póstuma pelo centenário do seu nascimento neste ano.
3º- porque o mons. Fernando deixou marcas indeléveis na alma e no caráter do homem que sou.
Afinal, quem foi Mons. Fernando?
Nascido nesta cidade de Poço das Trincheiras aos 30 de maio de l9l0, teve como pais Sebastião Medeiros Wanderley e Olávia Monteiro Medeiros. Na pia batismal, aos l0 de junho do mesmo ano é recebido na comunidade cristã com o nome de Fernando. Iniciou suas primeiras letras entre sua terra natal e Santana do Ipanema. Demonstrando interesse pela vida sacerdotal, ingressou no Seminário de Nossa Senhora da Assunção, em Maceió, aos l0 de fevereiro de l923. Posteriormente, foi para o Seminário de Olinda, onde concluiu seus estudos e recebeu o presbiterato das mãos de D. Manuel Paiva, bispo de Garanhuns, aos 8 de setembro de l934.
Iniciou o seu profícuo ministério sacerdotal aos l0 de maio de l935, como vigário encarregado de Major Isidoro, outrora Sertãozinho. Aos 30 de abril de l937 foi removido para Pão de Açúcar, paróquia que muito desfrutou do ardor de sua juventude e do zelo apostólico do seu dinâmico vigário. O apóstolo não para. Foi convocado para evangelizar em outras plagas. Santana do Ipanema é a privilegiada da vez, pois em lº de maio de l947 chegou a alviçareira notícia de que o Pe. Fernando seria o coadjutor do Pe. José Bulhões que se encontrava com a saúde bastante debilitada e precisava de um cirineu para ajudá-lo nas tarefas apostólicas. Por ter um gênio forte e voluntarioso, o velho pároco necessitava de um auxiliar que fosse diplomata e discreto na condução dos destinos da paróquia. O Pe. Fernando foi o escolhido pelos laços pessoais e familiares que o ligavam ao Pe. Bulhões e pela conhecida habilidade no trato com os paroquianos. Em Santana, dinamizou a paróquia e concluiu a reforma da Matriz, iniciada pelo pe. Bulhões. Reergueu o fervor religioso das congregações existentes, como: Congregação Mariana (para homens), Filhas de Maria (para moças), Apostolado da Oração, Cruzada Eucarística Infantil e outras. Foi um dos fundadores do Ginásio Santana, sendo nomeado seu primeiro professor de latim. A fim de arrecadar meios para realizar as obras paroquiais, criou as célebres feiras noturnas que obtiveram grande repercussão na época e tiveram resposta pronta dos agricultores com os donativos das colheitas de suas roças. Promoveu a reforma de muitas capelas e dotou-as das alfaias necessárias para a celebração do culto litúrgico. Quando tinha em mente inaugurar uma obra, mesmo sem dispor dos recursos suficientes, não hesitava em pôr suas próprias economias para alcançar o objetivo almejado. O ponto alto de sua curta passagem por Santana foi, sem sombra de dúvida, a VI Semana de Ação Católica, realizada em l948. Nunca os meus olhos de garoto haviam presenciado um espetáculo de tamanha magnitude como a apoteótica procissão de encerramento daquela solenidade. Um carro alegórico belíssimo conduzia o Santíssimo Sacramento; cânticos, ovações e um número incalculável de fiéis encheram ruas de Santana. Tempo inesquecível para mim aquele!
Aproximei-me do pe. Fernando mais por interesse de viajar de moto do que por espírito religioso. Daí surgiu uma sólida amizade que culminou com minha ida para o Seminário, mesmo sem o compromisso de ser padre ou não. Na minha ordenação, tive a honra de tê-lo como padrinho e pregador de minha primeira missa solene, celebrada aos l0 de fevereiro de l963, em Santana do Ipanema. Foi um amigo nos anos de meu exercício ministerial. De passagem pela casa paroquial de São Cristóvão, pediu-me, por diversas vezes, para ouvi-lo em confissão, demonstrando, assim, humildade e fé nos sacramentos da Igreja.
Quando decidi afastar-me do exercício das funções sacerdotais, foi o Mons. Fernando a primeira pessoa a saber da minha decisão; dando-me integral apoio, disse: ?Como o incentivei para ingressar no Seminário, continuo sendo seu amigo e irmão em Cristo, seja sempre fiel a si e à Igreja?.
O Mons. Fernando era de uma pontualidade britânica, se assim podemos dizer, muitas vezes expondo-se ao perigo para honrar um compromisso assumido. Qualquer celebração litúrgica que fizesse, tinha sempre uma catequese para aqueles que dela participassem. Incansável apóstolo da palavra! Em l95l, a comunidade santanense recebeu, com tristeza, a notícia da transferência de seu querido e operoso sacerdote. Foi promovido para a cura da Sé de Penedo e em l958 tornou-se vigário. Dirigiu ? O Apóstolo?, jornal católico da diocese. Juntamente com D. frei Felício da Cunha Vasconcelos, fundou o Seminário Nossa Senhora de Fátima, sendo nomeado seu primeiro diretor espiritual. A convite de D. José Vicente Távora, seu amigo e colega de Seminário, em Olinda, exerceu o vicariato na paróquia de São José, em Aracaju, onde celebrou bodas de prata de sua ordenação sacerdotal.
Sua preocupação com o futuro dos colegas mais idosos, levou-o a uma grande obra, a criação da chácara João XXIII, em Salgado, no vizinho estado de Sergipe. Aprazível recanto para morada, descanso e encontro do clero. Não sei como está o seu funcionamento nos dias atuais. A Igreja precisa rever suas posições com relação aos seus padres e, em especial, aos idosos. No começo, na juventude, tudo são flores, é uma festa. Na velhice, na doença, ninguém substitui o aconchego de uma família constituída.
Ao deixar a paróquia, em Sergipe, passou a ser missionário na região de Jeremoabo no estado da Baía. Depois de muitos anos dedicados à evangelização em muitos lugares por onde passou, era natural que as forças diminuíssem e o cansaço chegasse, pedindo ao devotado missionário uma desaceleração no seu ritmo de trabalho. Residiu em Maceió por uns dois anos. Retornou à terra natal, onde, no dia ll de junho de l984, foi ao encontro do Pai. Por onde passou, o mons. Fernando deixou em seus fiéis a imperecível recordação do sacerdote dinâmico, de ilibada conduta moral, visionário do futuro, andando um pouco à frente do seu tempo. Em Alagoas, foi o primeiro padre a usar clergyman, veste clerical que substituiu a batina. Dele pode-se dizer o que São Paulo na segunda carta a seu discípulo Timóteo escreveu, antevendo seu iminente martírio: ?Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. Já me está preparada a coroa da justiça que, naquele dia, me entregará o Senhor, justo juiz. E não só a mim mas a todos os que amam sua vinda?. 2 a Tim. 4,7-8.
São estas as minhas palavras.
Poço das Trincheiras, 28 de maio de 20l0.
Centro Cultural do Sertão comemora o centenário de nascimento do Monsenhor Fernando Medeiros
Culturapor José Malta Fontes Neto 29/05/2010 - 10h 00min Rodolpho Ornitz

Professor Alberto Pereira Santos
O Professor Tobias apresentou livros, fotos e documentos pertententes ao Monsehor Fernando Medeiros.
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