No decorrer dos anos, convivi com pessoas de diferentes personalidades e com todas, na medida do possível, busquei adquirir conhecimentos necessários à compreensão, não somente do mundo, como dos atos e atitudes dos que me cercam.
Recordo de, ainda muito jovem, haver sido aluno da inesquecível dona Heloisa, professora de baixa estatura, sobrepeso travando os passos, viciada em vestidos de desenhos florais cobrindo-lhe os braços até os cotovelos e se estendendo até o meio das pernas.
Possuía um automóvel Renault Gordini ano 1966 cor cinza, impecavelmente limpo e se agigantava em sala de aula, ao ensinar para a turma todos os detalhes geográficos existentes no Brasil, desde o Oiapoque ao Chuí e da Ponta de Seixas até o Monte Caburaí.
Sempre lembrarei a explicação da adorável mestra esclarecendo, para minha turma a diferença entre uma ilha e um istmo.
Enquanto a primeira formação, dizia, era cercada de água por todos os lados a outra, apesar de também encontrar-se no meio de oceanos, rios ou mares se caracterizava por servir como ligação entre grandes extensões de terra.
Inesquecível foi, ao final daquela aula, quando a docente, ainda segurando o giz, falou em tom alto e firme: “na vida, meus queridos alunos, busquem sempre assemelhar-se aos istmos.
Eles agregam e aproximam pessoas, influenciando o desenvolvimento e a felicidade, ao invés de optarem pelas características das ilhas.
Estas não somente os isolam, como desenvolvem em seus corações a tristeza e a solidão”.
Os tempos passaram, mas as palavras de dona Heloisa continuam, cada dia, mais vivas em minha mente, dando-me condições para enxergar que, apesar de cada ser vivente encontrar-se sempre ilhado por pessoas, mistérios, coisas, dúvidas e certezas, alguns conseguem, com muito esforço, conectar-se a seus semelhantes, ouvindo-os falar, compreendendo-os ao escutar, valorizando a experiência do próximo, e, sobretudo, aplaudindo pequenas ocorrências, para alguns gigantescas.
Há, ainda, uma grande quantidade de indivíduos que se afundam na solidão e na clausura, e mesmo dispondo de variados tipos de recursos, nada mais são que ilhas desprovidas de grandeza e sempre sozinhas.
Esses tipos fazem barulho, até ocupam espaços, mas, na verdade, andam sempre em busca do desconhecido, porque, vivenciando o isolamento, procuram entender sua razão, e mesmo não sabendo como agem, garimpam um modo certo de viver.
Assim, em momentos de meditação, quando as luzes se apagam estabelecendo a penumbra, com certeza lançam-se à procura de respostas e da cura para a enfermidade que sempre lhes atormentará o viver.
Não tenho dúvidas: Uma “pessoa ilha” equipara-se ao egocêntrico, que além de deixar de olhar para os lados, pouco se importa com o sentimento dos outros.
O “cidadão istmo” sempre será um altruísta, percorrendo caminhos que não somente aglutinam, mas sempre buscam atingir a iluminação, parceira fiel da felicidade...
“PESSOAS-ILHA” VERSUS “PESSOAS-ISTMO”
CrônicasPor Alberto Rostand lanverly Presidente da Academia Alagoana de Letras 06/05/2024 - 01h 03min
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