MÊS DE JULHO NA CIDADE: VIVA SENHORA SANTANA E SÃO JOAQUIM

Poesias

Por Marcello Ricardo Almeida

Cedo agricultor levanta-se olha
e logo agradece
vai e dedilha o ritmo na sanfona
viva São Joaquim
e viva à nossa senhora Santana.

Cedo agricultor levanta-se ouve
vai no chiado da chaleira
sol banha a sua rica agricultura
o que tem vende na feira
ganham pés o caminho na roça
vai trabalhar o dia inteiro
e quando o sol cai sobre a serra
vermelhidão se desenha
e ganha seus cantos alto sertão
vegetação espinhorenta
transforma aquarela cai o sono
e o agricultor agradece

a manhã de nova sorte
espalhada na vegetação agreste
cabra forte vive no teste
laça amansa cava planta e colhe
enfrenta seca enchente
indo à feira todo sábado ver gente
passa a vida na corrente
e bebe brinca se diverte e celebra
diz: Toda vida uma festa.

Você conhece você?
É distante do tenerê,
400km de distância
sem água pra beber.

Ouça cantos cantados,
entoam de longe
cantos que se cantam
nas vozes aladas;
a procissão no asfalto
segue a Santana
a bênção aos carreiros,
'pia carro de bois.

Cada agricultor levanta-se e faz
preces. Agradece
vai e dedilha o ritmo na sanfona
viva São Joaquim
e viva à nossa senhora Santana.

E seguem noites de novena,
presente estrutura da oração,
no sujeito-verbo-predicado,
os dedos, nas mãos o terço
percorre estrutura oral e ora
fazendo petição, promessas,
logo ganha ruas a procissão.

Todo agricultor levanta-se e diz
orações. Agradece
vai e dedilha o ritmo na sanfona
e viva São Joaquim
e viva à nossa senhora Santana.

Nas ruas calmas desta cidade,
passos lentos de fiéis da santa;
nos pálios, imagens balançam;
insiste ruído no carro de bois;
a multidão segue em orações,
canta louvores; explodem vivas:
Santana viva! três vivas, sertão!

E Santana revive a sua festa,
mês de Festa da Juventude;
luzes no parque de diversão
giram em vozes geométricas
na matemática dos números
e reúne Santana o sertanejo.

Veja. Realidades
são só recortes
buscados, sabiá.

O sabiá nunca vê
o fato que existe,
exceto a tesoura
fazendo recortes

na canção de exílios
busca incessante
uma outra realidade

existente nos sabiás
como se além nada há;
mundo sabiá quem faz
preso à sua vontade.

E a vida, sabiá, é tão isto:
ávida vida, logo se vai
agora na canção o Exílio.

Vai o tempo, o tempo se vai,
esvai-se a imprevisibilidade
na física quântica. Ei-lo portal,
chegam à missa fiéis tantos
quando dobra o sino na matriz.
Santana, veja o Pe. Bulhões
(musica José Ricardo Sobrinho)
celebrando noites de novena;
santanenses, ali, o Pe. Cirilo.

Procissão de fiéis toma as ruas
e janelas das casas lhe saúdam;
cortejo e canto vão à Rua Nova,
lá onde se hospeda a memória
lida dia a dia no Jornal do Sertão
(foguetórios de longe anunciam),
noutras: velhos casarões vazios.
Oscar Silva lendo fruto de palma,
e Breno Acioly lendo João Urso.
Mulheres com seus brancos véus
passam silentes, lábios trêmulos
repetem pai-nossos, ave-Marias.

Defronte a casa onde se guardam
histórias de Santana do Ipanema
passam fiéis na Casa da Memória.

E viva o mês da festa de Santana
onde as luzes desenham a igreja,
alegria nas ruas canta hinos pios;
sertão regozija-se e a hora é esta
e mãos postas no ritual da missa;
cada vida um sopro, um único fio.
Na pia batismal batem pestanas;
oram as filhas, os filhos de Maria.

E cedo agricultor vai celebrando,
segue e agradece;
vai e dedilha o ritmo na sanfona:
Viva São Joaquim,
e viva à nossa senhora Santana.

Viver é assim.
E se hoje está
ainda criança

o tempo viaja
na esperança.
Filme diz fim?

Ávida é a vida
bater de asas
o breve colibri
tá, não tá aqui

hoje em casa
sol no jardim
e amanhã só
lembranças.

Ruas desertas em Santana
multidão segue no cântico,
e some-se em uma esquina.

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