Sempre admirei esportes de ação, contudo ultimamente na expectativa de acompanhar Arthur meu neto, tenho dedicado atenção ao jogo de xadrez, criado na Índia, ainda no século VI com o nome de Shaturanga significando “os quatro elementos do exército”. Nele, todos os componentes das forças militares da época estavam representados, pois peões formavam a infantaria, equinos eram a cavalaria. Antigamente havia também carroças, depois trocadas por torres, e elefantes posteriormente transformados em bispos.
Recentemente passeando na orla da Barra de São Miguel, cheguei a duas verdades interessantes. A primeira delas deixou claro, que as vezes é preciso ser como as ondas do mar, recuar para ganhar forças, pois tal volume de agua apesar de quebrar ante os obstáculos encontra energias para recomeçar.
A segunda mostrou explicitamente que mesmo em meu subconsciente, sempre encarei a vida como um tabuleiro de xadrez, onde assuntos são peças, problemas representam jogadas, enquanto conseguir sobreviver é pratica gerada por estratégias as mais variadas.
Horas depois, já radiante com a beleza do céu, tornei a pensar naquele esporte que hoje encanta o planeta, concluindo se pudesse escolher um elemento que integra a disputa, para incorporá-lo, optaria em ser a torre, por possuir mobilidade enorme no espaço do embate, sendo extremamente eficaz na proteção do rei e rainha.
Migrando para o cotidiano, verifiquei muitas vezes busquei em minha caminhada, manter ao meu entorno algumas poucas pessoas em quem confio e para mim funcionam como verdadeiros anteparos protetores.
Recordo que em inúmeras ocasiões, esforcei-me para exercer com altivez o mesmo papel junto à aqueles que prezo.
As torres no jogo da vida deveriam fazer por merecer todo o respeito e apoio, mas ao contrário, nem sempre tal fato acontece pois muitas vezes o mandante da hora, entende ser melhor valorizar a força dos peões que, apesar de importantes, são possuidores de mobilidade reduzida.
A grande diferença entre a simulação e a realidade é que no xadrez ao final do jogo, rei e peão retornam à mesma caixa, e naquela situação possuem importâncias equivalentes, sendo necessários para que tudo comece outra vez. No mundo dos vivos, em tempos extremamente bicudos, não bastassem as barbaridades diárias veiculadas nos noticiários, é comum sentirmos que sempre, o forte usa o fraco em benefício próprio.
Já era tarde quando resolvi recolher-me, convencido de que sempre possuí mil motivos para ser feliz, pouquíssimos para chorar e nunca valorizei os momentos tristes a ponto de influenciarem o meu pensar.
Continuarei até o final dos dias sendo admirador das estratégias do jogo de xadrez, pois assim me sinto realizado.
O XADREZ E A VIDA
CrônicasPor Alberto Rostand Lanverly Presidente da Academia Alagoana de Letras 22/08/2022 - 12h 54min
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