O XADREZ E A VIDA

Crônicas

Por Alberto Rostand Lanverly Presidente da Academia Alagoana de Letras

Sempre admirei esportes de ação, contudo ultimamente na expectativa de acompanhar Arthur meu neto, tenho dedicado atenção ao jogo de xadrez, criado na Índia, ainda no século VI com o nome de Shaturanga significando “os quatro elementos do exército”. Nele, todos os componentes das forças militares da época estavam representados, pois peões formavam a infantaria, equinos eram a cavalaria. Antigamente havia também carroças, depois trocadas por torres, e elefantes posteriormente transformados em bispos.

Recentemente passeando na orla da Barra de São Miguel, cheguei a duas verdades interessantes. A primeira delas deixou claro, que as vezes é preciso ser como as ondas do mar, recuar para ganhar forças, pois tal volume de agua apesar de quebrar ante os obstáculos encontra energias para recomeçar.

A segunda mostrou explicitamente que mesmo em meu subconsciente, sempre encarei a vida como um tabuleiro de xadrez, onde assuntos são peças, problemas representam jogadas, enquanto conseguir sobreviver é pratica gerada por estratégias as mais variadas.

Horas depois, já radiante com a beleza do céu, tornei a pensar naquele esporte que hoje encanta o planeta, concluindo se pudesse escolher um elemento que integra a disputa, para incorporá-lo, optaria em ser a torre, por possuir mobilidade enorme no espaço do embate, sendo extremamente eficaz na proteção do rei e rainha.

Migrando para o cotidiano, verifiquei muitas vezes busquei em minha caminhada, manter ao meu entorno algumas poucas pessoas em quem confio e para mim funcionam como verdadeiros anteparos protetores.

Recordo que em inúmeras ocasiões, esforcei-me para exercer com altivez o mesmo papel junto à aqueles que prezo.

As torres no jogo da vida deveriam fazer por merecer todo o respeito e apoio, mas ao contrário, nem sempre tal fato acontece pois muitas vezes o mandante da hora, entende ser melhor valorizar a força dos peões que, apesar de importantes, são possuidores de mobilidade reduzida.

A grande diferença entre a simulação e a realidade é que no xadrez ao final do jogo, rei e peão retornam à mesma caixa, e naquela situação possuem importâncias equivalentes, sendo necessários para que tudo comece outra vez. No mundo dos vivos, em tempos extremamente bicudos, não bastassem as barbaridades diárias veiculadas nos noticiários, é comum sentirmos que sempre, o forte usa o fraco em benefício próprio.

Já era tarde quando resolvi recolher-me, convencido de que sempre possuí mil motivos para ser feliz, pouquíssimos para chorar e nunca valorizei os momentos tristes a ponto de influenciarem o meu pensar.

Continuarei até o final dos dias sendo admirador das estratégias do jogo de xadrez, pois assim me sinto realizado.

Comentários