O branco apaixonou-se pela bela cabocla
Linda mulher de longos cabelos negros
A família do branco tentou separar o casal
O amor dos dois revigorou e se expandiu.
E hoje contamos a bela história que o mal
Não perpetuou e o bem se permitiu.
E os jovens Luzia e Manuel vivem até hoje
Na família que desejaram e persistiu.
Quando o Imperador veio ao Brasil, precisamente a Alagoas, acompanhavam nobres ilustres que eram guardas da comitiva. Alguns conheceram as terras férteis de Alagoas e resolveram fixar residência. Manuel, da comitiva portuguesa, apaixonou-se pela cabocla rústica lá do Batatal. Luzia, entusiasmada com o elegante jovem, vindo de terras civilizadas, aceita o seu pedido para construírem uma vida juntos. Entre viagens e voltas do marido, tiveram três filhos. Mais uma prova de miscigenação no Brasil. A cabocla e o português. Mas, as coisas não foram tão fáceis para a jovem senhora. Não foi bem recebida pela família do rapaz. Uma família branca de olhos azuis não aceitava a cabocla dos cabelos pretos e longos que havia despertado o amor do nobre rapaz.
A família de Manuel construiu um casarão no Batatal e lá moravam. Luzia não se sentia muito bem naquela casa. Um dia resolveu ir embora. Uma das irmãs do marido responsabilizou-se pelos filhos do casal. Joana assumiu o papel maternal para os três filhos de seu irmão Manuel que precisava viajar. Era seu trabalho. O marido de Luzia acompanhava o Imperador, enquanto a mulher não se sentia feliz, ali, naquela casa que não era sua. Os filhos, logo que cresceram emanciparam-se. Otávio construiu sua vida no Rio de Janeiro. Sulino ingressou no Exército Brasileiro e edificou-se em Jaboatão-Pernambuco. Maria José casou-se com um belo jovem do Batatal. Todos os anos, os irmãos visitavam a querida irmã que ficou em Alagoas. Ainda hoje, descendentes desses nobres, negam a hereditariedade dos filhos de Luzia e Manuel.
Enquanto Maria José vivia, havia comunicação entre os irmãos. Correspondiam-se por meio de cartas, trocavam fotos, visitavam-se. Depois de sua morte, a família perdeu o contato com esses familiares. Atualmente com a internet, alguns familiares estão, mesmo timidamente, tentando uma reaproximação. Os netos de Maria José tentam erguer a ponte, que há vários anos fora desativada.
Houve alguém desta família que insinuou com todas as letras que a família descendente de Maria José não é da “família nobre”. Que Maria José fora apenas criada por dona Joana. Talvez, este ilustre, tenha se esquecido de pesquisar a origem desta família. Desde que, Manuel tenha construído, junto com sua amada cabocla, Luzia, com certeza, os seus descendestes pertencem a mesma família. Qual a dúvida e qual o problema? No Brasil não houve miscigenação, mistura das raças? Até aí, qual a novidade? Ele branco, ela cabocla? Fato mais banal, ou, melhor dizendo, que belo casal apaixonado, ao ponto de construírem uma família. Infelizmente, ainda hoje, pessoas não aceitam sua origem. Não são brasileiros? O certo é: Manuel e Luzia e os três filhos sofreram separações. Os filhos do casal português e brasileiro reconstruíram suas famílias. Natural acontecimento no Brasil. Negro, branco e povo brasileiro. Somos o resultado de preconceitos, separações, mas, também de muito amor, o que fez que vingasse toda a nossa vontade de sermos pessoas que querem viver em paz, com o amor em primeiro plano.
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