SE UM DIA EU ME ARRETÁ

Poemas

por Fábio Campos

Eu não quero nem pensar
SE UM DIA EU ME ARRETÁ
Eu dou nó em pingo, d’água
Danço forró com a mágoa
Meto a mão numa cumbuca
Como prego com açúcar
Boto rabo no preá

SE UM DIA EU ME ARRETÁ
Dou soco no olho da rua
Na crise eu sento a pua
Dou chute com o pé de vento
Apago a luz do firmamento
Faço da cobra um ganzá

SE UM DIA EU ME ARRETÁ
Estico os fios do bom-bril
Ajeito o mapa do Brasil
Traço os cabelos do milho
Dum verso faço estribilho
Boto cheiro num gambá

SE UM DIA EU ME ARRETÁ
Do leão tiro o rugido
Bebo chumbo derretido
Cavalgo o cavalo do cão
Trago o mar para o sertão
Faço macaco falar

SE UM DIA EU ME ARRETÁ
Da tristeza tiro férias
Meto medo na miséria
Bode vira democrata
Porco casa com uma gata
Sapo vira militar



SE UM DIA EU ME ARRETÁ
Pego briga com a preguiça
Meto medo na polícia
Comigo vale a justiça
Elefante joga bola
Burro boto na escola
No grilo vai caçuá

SE UM DIA EU ME ARRETÁ
E quando estiver cansado
De tantas estripulias
Deito na rede da esperança
Durmo como uma criança
Sonho com a Virgem Maria!

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