Final dos anos 50 em Santana do Ipanema, naquela época as brincadeiras dos meninos sertanejos compreendiam das peladas de futebol nos campinhos improvisados, dos jogos de pião, ximbra, castanha, dos banhos nas trovoadas aproveitando a água que descia das bicas das casas e dos mergulhos no “Panema” e no barreiro de Seu Antônio Carneiro, ali nas proximidades da casa onde Josa Pinto morou por muitos anos. Geralmente os banhos no famoso barreiro aconteciam depois de um jogo de bola nas ruas, principalmente na Avenida Nossa Senhora de Fátima ao lado do Tênis Clube Santanense e da casa de Seu Abílio Pereira.
Após a pelada os meninos partiam correndo em direção ao velho barreiro onde faziam trampolim da sua parte mais alta para se atirarem na água barrenta. Existiam aqueles que não sabiam nadar, como o Benedito Soares (Benedito cego), Zé Carneiro e Bibi de Jacira que pagavam para atravessar o barreiro nas costas de Zé Piolho um especialista e conhecedor das entranhas do barreiro. Zé Carneiro seu maior freguês pagava as travessias com pão d’água comprado ao pãozeiro Valete. Mas, o Zé Piolho muito esperto, sempre que transportava alguém nas costas procurava pisar nas partes mais rasas e movimentando os braços como se estivesse nadando de verdade. Lembro-me que certa vez Zé Carneiro pagou com dois pães para fazer a travessia de ida e volta, no entanto, aconteceu que no retorno Zé Piolho já cansado desequilibrou-se e pisou em um buraco que a água cobriu sua cabeça arremessando o pão que trazia em uma das mãos, enquanto Zé Carneiro no desespero agarrava-se firme pelos cabelos e orelhas do Zé Piolho para não se afogar. Após alguns minutos de luta pela sobrevivência conseguiram chegar às margens da barroca. Zé Piolho havia engolido cerca de quatro litros de água, enquanto o Zé Carneiro reclamando dizia: “nunca mais vou confiar em Piolho”.
Anos depois o velho barreiro foi aterrado e em seu lugar lindas casas foram construídas. Certamente o barreiro de Seu Antonio Carneiro morreu com a nossa infância.
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