PEDRO GARGALHADA

Histórias Engraçadas

Remi Bastos

Conheci Pedro gargalhada nas feiras livres de Santana do Ipanema nos meados dos anos sessenta. Era um pedinte que dependia de moletas para se locomover. Não sei ao certo sua origem nem tão pouco sobre seus familiares, Pedro Gargalhada como era assim conhecido por todos costumava pedir esmolas nos dias de feira em Santana, onde estabelecia o seu ponto nas imediações da vidraçaria de Gileno Carvalho. Talvez esse epíteto tenha sido colocado por Zé Carvalho, extraído do seu livro de alcunhas de onde sairam os registros dos tão conhecidos garotos transviados: Lobinho, Lobão, Rapouso, João Bestão, Capela, entre tantos outros.

O Pedro Gargalhada gostava de tomar uma caninha, mesmo em servico. Sempre havia alguém que atendia aos seus pedidos e vez por outra comprava uma dose de “cachaça” raíz de pau em uma das barracas instaladas na feira. Às vezes quando queria ingerir algo mais precioso,por exemplo a velha Pitu, pedia para que o produto fosse comprado no Bar de Seu Lira. Soltar gargalhadas era o seu forte, no entanto, quando já estava sobre efeito do álcool, as suas chocalhadas eram mais caprichadas. Daí então passava a cobrar pela sua arte de gargalhar, cujo tempo e altura dependia do valor pago. Aqueles que já o conheciam, se aproximavam, colocavam uma moeda na bacia de coleta do óbulo e dizia em seguida: “Pedro de uma de um Cruzeiro, e o velho Pedro soltava faíscas pela boca através de suas famosas gargalhadas que se ouviam à distãncia. Mas, Zé Carvalho, como sempre, possuidor de um espírito recheado de sem-vergonhices, e sabendo dos preços cobrados pelo artista popular, às vezes se utilizava da ingenuidade de algum cabôclo que passava por ali encantado com os espelhos da Vidraçaria de Gileno e pedia para que este fosse até ao Pedro, colocasse cinquenta centavos na bacia e pedisse que ele desse uma gargalhada naquele valor. Pedro ao tomar conhecimento da quantia dizia: “com esse mirréis não dá nem para abrir a boca”, e engabelava o dinheiro. Às vezes Zé Carvalho que desfrutava de uma certa amizade com o Pedro em função das pingas patrocinadas, gritava da vidraçaria: “Pedro dê uma de dez”. E pedrão deslizando a boa vontade e singeleza sobre o tapete do sorriso, abria a bocarra e passava quase meia hora em fôlegos contínuos gargalhando em plena feira.

Atualmente quando vou a Santana, costumo dar algumas voltas na feira. Passo em frente ao prédio onde funcionou a vidraçaria de Gileno, sorrateiramente lanço um olhar de busca no local onde o Pedro costumava ficar, mas nada vejo senão barracas de bijuterias. Até me conformo, pois, se o Pedro Gargalhada não teve o privilégio de no local onde costumava mendigar ter sigo erguido uma famosa joalharria, no entanto, ficaram as suas gargalhadas simbolizadas nas vozes dos feirantes divulgando os seus produtos. Aquele homem que perdeu as pernas, mas ganhou a arte de gargalhar já não existia mais. Que sua gargalhada Pedro seja eternal, quanto eterna é a sua lembrança através daqueles que o conheceram e riram com você, inclusive o Zé Carvalho.

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