Quem não se recorda da bandinha de pífano em seu quinteto muito comum no Nordeste, e em particular nas ruas de Santana do Ipanema? Essa tradição harmoniosa com registros históricos de tantos anos, vez por outra marcava sua presença quase sempre com um único objetivo, angariar donativos para as comemorações festivas de um santo milagreiro. A Bandinha em sua simplicidade normalmente era composta por dois tocadores de pífano, um zabumbeiro, um tocador de caixa e um prateiro. Na frente seguia Dona Joaninha responsável pela captação do óbolo, conduzindo um pequeno santuário em uma caixa de sapato ornamentado com fitas. Em cada casa visitada, a bandinha mantinha o ritmo até que surgisse alguém na porta para fazer a sua contribuição pecuniária.
Às vezes perguntavam sobre a finalidade daquela arrecadação, e a resposta era breve: “É para ajudar no novenário de Santa Luzia no mês de dezembro, no Sítio de Seu Manezinho Carvalho, no Gravatá”. O que mais impressionava naquela peregrinação, era a fé que brotava nos rostos daqueles fiéis, o milagre tinha que acontecer. Percorriam distâncias sem perder as esperanças de que no dia 13 de dezembro, momento do encerramento do novenário, todos estariam com as visões protegidas graças aos milagres alcançados por intercessão de Santa Luzia.
Ainda escuto distante nas artérias do meu pensamento o ---- Dum-Dum-Dum ---- da Bandinha de Pífano na passarela pelas ruas da minha cidade. Ultimamente quase não se vê este pedacinho de uma tradição que possivelmente tenha nascido no Nordeste. O progresso, muitas vezes destruidor, não legou às gerações futuras a herança por este folclore que também é nosso. Vou adicionar ao museu das minhas lembranças o compasso da Bandinha de Pífano nas suas jornadas, para que amanhã eu possa lembrar através das brumas do tempo, o quanto era lindo e fervoroso ouvir o pífano ressoar ritmado pelos toques da zabumba, da caixa e dos pratos, comandados por Dona Joaninha num conjunto eternamente musical que é a “Bandinha de Pífano”.
Aracaju, 22/09/2010.
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