A MINHA MALETA DE EUCATEX.

Crônicas

Marcos Cintra

Impossível apagar das nossas memórias o dia 22 de janeiro do ano de 1965. Na manhã do dia anterior, acordamos mais cedo, pois iríamos realizar a viagem mais importante da nossa vida. Eu e meu amigo José Márcio, malas prontas, nos deslocamos até a cidade de Santana do Ipanema, para tomar posse no Banco do Brasil, aprovados que fomos em concurso público.

Meus pais não escondiam a satisfação pela sensação do cumprimento do dever. Transmitiram os ensinamentos, a carga genética e , finalmente, deram o sinal verde para que eu, mangas arregaçadas, enfrentasse a vida com força e disposição, não esquecendo os conceitos éticos e morais. Estavam abertas as portas da vida e eu certamente mergulharia de corpo e alma. Poderia claudicar em alguns momentos e até cair, nunca desistir.

Da minha residência, na avenida Duque de Caxias até a casa do meu amigo na Rua do Queimado, fiz o percurso caminhando, com a minha maleta na cabeça, pois levava todos os meus pertences. O sol ainda não havia despontado no horizonte quando cheguei à casa do meu amigo. Percebi que as luzes estavam acesas, o que indicava grande movimentação no interior da casa. D. Laura, sua mãe, orgulhosamente havia concluído a tarefa de preparar a mala. Tal trabalho possuía um significado muito mais importante do que arrumar a roupa cuidadosamente passada. Tinha a convicção de que, naquele momento, estava sendo concluída a difícil missão de preparar o seu filho para que ele pudesse, a partir daquele momento, desempenhar o papel para o qual foi habilmente treinado. Não conseguia esconder a apreensão ao desligar o vínculo materno protetor, pois tinha consciência das dificuldades que surgiriam no caminho daquele jovem cheio de expectativas e vontade de vencer. Entretanto, mantinha forte a esperança de que, a carga genética a ele transmitida por ela e pelo velho Lafaiete, funcionasse como uma verdadeira couraça nos momentos difíceis da vida e como farol, que orienta a embarcação na busca do rumo certo a ser tomado.

Nossas maletas estavam cheias. Além das nossas roupas, abrigavam muitos sonhos. Sonhos que realizamos ao longo do tempo, com muitos sacrifícios. Éramos bastante ambiciosos. Vencer na carreira bancária, conseguir a companheira ideal para ajudar na missão, criar, educar e casar os filhos. Daquela maleta, um por um, os sonhos foram se realizando. Vencemos profissionalmente, mantemos os mesmos laços matrimoniais há mais de 40 anos, criamos, educamos e casamos os nossos filhos.

Renunciamos ao conforto das cidades mais importantes e residimos em regiões as mais inóspitas. Locais com assistência médica precária e condições pouco apropriadas para educação. Tudo era irrelevante diante da nossa obstinação. Fomos preparados para vencer e vencer era a nossa meta. Não sentíamos a dor provocada pelos espinhos. O aroma da rosa era muito mais forte.

Hoje, “sessentões”, vista curta, cabelos embranquecidos e ralos, olhamos para o caminho percorrido na estrada da vida e o fazemos com bastante orgulho. Tivemos momentos de muitas dificuldades mas exultamos com os instantes alegres. A cada passo dado, a cada degrau alcançado, sentíamos que as nossas forças se renovavam. Hoje, a nossa sensação é a mesma do soldado que, vitorioso, inicia o caminho da volta.

O saldo de tudo é a certeza de que DEUS foi muito generoso conosco. Se merecemos... somente ELE sabe.

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