Seu Leuzinger, do hotel Avenida era assim, dia e noite, vestido numa camisa de manga comprida de um Brim azulão com vários bolsos e uma calça do mesmo tecido. E nos pés, um par de chinelas. Ao vê-lo assim, qualquer um pensaria tratar-se de um aposentado empijamado. Mas era só aparência, pois bastava conversar com ele, pra descobrir o homem disposto, astuto e perspicaz que era. Comentários jocosos acusavam-no, de ter só aquela roupa. Na verdade tinha várias, do mesmo modelo. Ele tinha outras excentricidades. Por exemplo, não tirava do rosto, um óculos escuro, ainda que estivesse dentro de casa.
Certa vez, um hóspede procurou-lhe para reclamar que não achava o interruptor pra acender a luz do banheiro e que não dava pra tomar banho no escuro.
-Nada disso! Retrucou Seu Leuzinger. -Tente fechar a porta prá ver!...
Ao fechar a porta, que surpresa! A luz do banheiro se acendeu!
Disse ele: –Essa medida, tomei porque a maioria de vocês, sai do banho e deixa a luz acesa!
E tinha outra medida mais drástica, com relação à economia de energia: Depois das 10 horas da noite, ele desligava um disjuntor que causava a falta de energia nos quartos dos hóspedes. Se no dia seguinte, ouvisse algum hóspede reclamando que não conseguira dormir sem ventilador, por conta do calor e das muriçocas. Seu Leuzinger comentava:
-Essa energia daqui de Santana não tem jeito não!... E arrematava: -Também, do jeito que vocês chegam cansados dormem logo, né?...
Mas ninguém concordava com essa sua opinião, claro.
Certa vez, após o almoço, um hóspede cobrava dele:
–Seu Leuzinger, num tem aí um docinho não?
Meio contra a vontade, vai buscar uma lata de doce de goiabada e tira um pedaço tão fino, mas tão fino, que o hóspede levanta com o garfo, e olhando através da ínfima fatia, ironiza:
-Tô vendo Seu Leuzinger!
Se por acaso faltasse, palito de dente ou guardanapo no hotel, lá ia Seu Leuzinger comprar na mercearia de papai. E sempre puxavam conversa. Uma vez ele comentava sobre um hóspede:
...-Aí, eu servi um cafezinho, e perguntei ao cabra:-Você é diabético? “Não, sou de Bom Conselho!”
-Êita fio da peste burro!
E caiam os dois na gargalhada.
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