QUANDO AS NOVELAS NOS INFLUENCIAM

Crônicas

Goretti Brandão

A televisão é hoje uma das grandes propagadoras de valores e comportamentos Não acompanho novelas por achar que se perde tempo com elas. Posicionamento meu, particular, o que não me impede de mesmo assim, sem estar diante da telinha, perceber o efeito que elas, as novelas, fazem na vida das pessoas. Hoje, mais do que a Igreja e a família, a mídia, de um modo geral, é quem dita costumes, valores e comportamentos. Até aí, nenhuma novidade. Esse discurso é caduco. O que me chama a atenção, no entanto, é a maneira como as pessoas reproduzem os "ensinamentos" inculcados pelos meios de comunicação. Tenho observado o acontecimento das "festas Indianas". Elas se tornaram frequentes entre grupos de mulheres que costumam se encontrar com regularidade. Vi há poucos dias, em álbuns do Orkut (e quem não conhece o orkut?), a quantidade de eventos dessa natureza. Isso me faz pensar sobre o assunto. Diante de fotografias, onde além das roupas típicas da Índia, há verdadeiros altares para Ganesha, Shiva e outras tantas divindades asiáticas, até então desconhecidas do grande público de telespectadores, vejo o exemplo do quanto é forte a influência da televisão sobre a sociedade consumidora desse tipo de "produto" que é oferecido. Eis aí uma amostra do senso comum agindo sobre o inconsciente coletivo. Que o digam os psicólogos! Se formos analisar as evidências, veremos que aquilo que as novelas apresentam, seja o que for - o que é para mim assustador -, as pessoas assimilam sem pestanejar. É óbvio que existem exceções, como há em toda regra. Questiono a influência da televisão à maioria. Àqueles que sentam diante da TV e recebem suas mensagens como se fossem lições para a vida. Alguém pode se colocar no lado oposto ao meu e perguntar: Mas a novela trouxe cultura às pessoas. Muita gente ficou sabendo dos costumes do povo indiano, não foi? Então eu pergunto: Você acha mesmo? Ou será que estamos confundindo informação com conhecimento? Tudo que aparece nas novelas é tratado como coisa de consumo e descartável. As pessoas se utilizam dos jargões, apresentados da própria novela, e os incorporam à linguagem coloquial, como divertimento. Desde que a Globo estreou uma novela que entre outras coisas, trata sobre indianos, que escuto a expressão: Are baba. O que significa are baba? Certamente pouquíssimas pessoas sabem, mas dizem. Tudo é apresentado ao público e vira modismo, e como modismo, tem prazo para ser esquecido. Cadê o conhecimento? As coisas ficam no nível da informação, e assim que a novela acabar o interesse cotidiano comum, será descartado. Em verdade, a cultura ocidental e a asiática, nesse contexto, não se mistura. A troca é mínima e volátil. O aprendizado da realidade do outro é vago. A realidade do outro país é caricaturada e o receptor se “diverte” com os costumes, as palavras e os comportamentos do povo indiano, ao invés de aprender a respeitar as diferenças e aprofundar a curiosidade pela história de um país e do seu povo. A distância entre a cultura indiana e a nossa é tão grande, que o máximo que as pessoas fazem - instigadas pela mensagem sutil do consumo -, é reproduzir a Índia que a televisão mostra, em festas. É preciso imitar as novelas. Viver o que as novelas estão vivendo. Fica complicado sair por aí vestidos com trajes indianos. Seria ridículo para nós, ocidentais, suponho que se pense assim. Mas como fica a necessidade de reprodução da lição recebida? Sem pensar absorvemos o que as mídias querem que pensemos. As festas indianas são, a meu ver, uma grande prova dessa influência. Não foi à toa que Jesus, o polêmico Jesus bíblico, disse: “Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará”.

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